terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Clarice

Contou mais uma desilusão entre tantas no caminho.
Clarice.
Meiga moça ruiva a olhar pela janela num domingo de sol pós culto presbiteriano diurno.
Nunca havia sentido algo tão forte quanto o que sentiu pelo alto pastor luterano.
Clarice havia vivido seus desencontros amorosos juvenis,contava apenas com 20 anos quando foi surpreendida com a imagem de um alto homem branco,olhos verdes,voz firme,braços fortes sorriso de galã.Era o novo pastor da mais recente igreja luterana da cidade.
Em uma festa de boas vindas entre as igrejas históricas da cidade deu-se uma troca de olhares perceptível a todos porém eram jovens,não haveria mal algum mesmo este pastor sendo casado,"coisas da idade" disseram os pretensos protestantes.
Havia no olhar da esposa deste que denunciava uma certa complacência,não fazia o estilo de mulher ferida pela possível traição.
O segundo encontro em um supermercado ocorreu de forma natural e simples entre uma prateleira de azeitonas e outra de palmito.
"Não me satisfaz palmitos" disse o pastor.
"Depende da forma como se introduz ele pode ser bem saboreado"respondeu ela.
"Conheces de cozinha?"indagou ele
"Um pouco menos do que da vida"replicou a ruiva.
Com um sorriso bem pouco galante caminhou ele para o caixa.Dando ali um sorriso aberto e conquistador para a operadora.
Terceiro encontro foi na Igreja,Igreja Luterana da Salvação.
O pastor defendia a idéia de que a sociedade esta pronta para atacar aquilo que na verdade reconhece dentro de si ou entre quatro paredes o que é abominável ou frágil,nenhuma figura poderia melhor ser retratada nesta pregação do que Maria Madalena alvo da intempérie de um povo.
O olhar fulminante do pastor veio em sua direção quando disse do arrependimento de Maria Madalena que a certa altura do Evangelho chega a enxugar os pés de Jesus com os cabelos.
"Quereria ele dela algo comparável ao que a personagem bíblica?Devoção extremada?Silêncio ao invés de inteligência colocada em palavras?Seria um convite?" dúvidas apenas isto carregou do culto.
Ligou para o pastor na manhã de sábado e disse que iria a livraria e precisava de uma boa dica de livro,o pastor disse que precisava conhecer algumas livrarias da cidade e se propôs a ir com ela.
De bermuda jeans,pólo verde escuro,sandália de couro marrom o pastor parecia um turista canadense na pequena cidade de Guaratinguetá,com as bochechas vermelhas pelo sol que tomara reluziu ainda mais a beleza européia do jovem pastor sulista.
Procuraram pelos livros de Moacyr Scliar,Milton Hatoum,Lygia Bojunga acabaram ao mesmo tempo com olhos no livro de uma escritora recente por título Sexo entre Religosos e Afins,Laura Cardoso Ximenes psiquiatra judia que abordava a questão sexual dentro de várias religiões,os dois se aventuraram na compra.
No estacionamento da livraria trocaram emails.
Durante a noite conversaram longamente até que uma frase por fim deu o tom de toda uma conversa:"Preciso te ver amanhã".
Marcado o encontro na Biblioteca da Cidade,entre Machado de Assis e Lyia Fagundes Telles se deu o orgasmo menos literal já um dia descrito.O pastor colocou as mãos por baixo da minisaia levantou levemente sugou a pequena vagina com alguns fios ruivos enquanto a moça gemia de prazer com uma biografia de Carmem Miranda nas mãos.
Terminaram a bela tarde de sexo transando na secretaria da igreja.
Mal conseguia olhar para a esposa do pastor quando percebeu que seu pai,presbiteriano desde a infância tornou-se luterano convicto aos 54 anos e passou de um músico inveterado a leitor compulsivo com primaz constância as bibliotecas e livrarias da cidade,sempre acompanhado de Sylvia esposa do pastor e criadora do Ciclo de Leitura Luterano.
Continuou a apreciar os livros.

sábado, 7 de novembro de 2009

Diego

Eu não sei.
Repetiu tres vezes ao psiquiatra.
Calou-se em seguida.
Após ler Rimbaud,Ferreira Gullar e Sidney Shelton desceu a cozinha.Tateando pelas paredes sem os habituais óculos que dispensava dentro de casa chamou por Gabriela.
Silêncio por resposta.
Sem sinal de que alguém passara pela cozinha muito menos Gabriela que sempre deixava portas dos armários abertos e um cheiro de café estonteante por toda casa.Tudo estático portas fechadas,fogão irritantemente desligado.
Foi ao calendário consultou-o de cima para baixo não era aniversário dela,seu ou de alguém próximo.Qual seria a surpresa?
Lembrou-se...era aniversário da irmã dele,mas havia tres anos que ela vivia na Alemanha,qual cidade mesmo?
Duhrein.
Nunca entendeu por que alguém escolheria um país tão gelado para morar,pior que Alemanha só o Pólo Norte ele e Gabriela sempre amaram o sol,conheceram-se na praia.
Ubatuba.
Sua irmã teria vindo de tão longe enfim?
Duhrein.
Havia um e-mail há ser conferido,um e-mail já lido mas que por alguma razão precisava ser reconferido.
"Venho por meio deste consolidar minha tristeza por esta perda.Nunca imaginei em nossa família algo tão terrível!Meus pêsames.De sua irmã Antônia!"
Pêsames?
Mas...
Foi ao telefone e discou para a sogra,claro Gabriela devia ter tirado o sábado para ir na casa da mãe,viúva,protestante,sozinha como ele poderia ter cogitado num sábado de folga como aquele Gabriela não visitar a mãe-amiga de todos momentos."Homens" lembrou-se de como Gabriela sempre dizia quando ele esquecia coisas óbvias que uma mulher por momento algum deixaria escapar.
Discou o número.
O telefone tocou tres vezes a sogra atendeu ao ouvir a voz o genro chorou.
Diego desligou.
Foi até a escrivaninha,viu uma carta de Gabriela a grafia delicada:"Obrigada por proporcionar esta viagem sensacional,estou feliz por me encontrar com sua irmã em um país tão diferente de nós dois.Vou com a parte esquerda do meu coração no peito.A direita deixo contio e quero junta-las na minha volta.
*Não esqueça de ser gentil com Marilda nossa empregada,de dar água as plantas e ir a igreja aos domingos.
Te amo,Gabi"*
A imagem de um lindo corpo delineado de mulher negra 1,80 cabelos chanel pretos,placidamente maquiada,vestido preto estilo tomara que caia,capa cinza de pelos sintéticos,sapatos Gucci prateado.Sua Gabriela estirada ao chão,atropelada após sair de uma pequena capela luterana e neve ao lado contornando a cena funesta.
Diego olhou para o psiquiatra homem alto,loiro de rosto largo procurando decifrar as incertezas,diferenças e injustiças da vida.
Olhou para o alto e disse:
Eu não sei.

sábado, 17 de outubro de 2009

Bailarina

Reviveu ao ver o ballet russo apresentar-se pela terceira noite consecutiva no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.Mariana sorriu destemida ao ver uma jovem negra como ela dançando levemente no palco gigantesco.Respirava diferente dentro do teatro,como se os pulmões absorvessem a atmosfera de satisfação que ali reinante.
Aplaudiu de pé.
Se por ela fosse ali ficaria,veria horas a fio o espetáculo.
Na volta pra casa tomou seu habitual ônibus da zero hora;na cidade de Tres Corações- Minas Gerias onde cresceu ouvia dizer que meia noite era horário das almas penadas;vivendo no Rio de Janeiro há dez anos e oito meses esqueceu-se das almas penadas e prestava atenção nos passos que a acompanhavam dia e noite.
Cada um poderia ser a face viva do horror.Estampado em cada rosto a insegurança advinda da maldade profunda.
Viu em seu primeiro ano morando em cidade grande uma senhora sendo atropelada em plena Avenida Atlântica e apenas um murmurio de alguns que chamaram a ambulância e tudo o mais a correr normalmente.Apenas mais uma mulher,desta vez uma senhora de aproximademente 70 anos caida no chão atropelada por um motoboy que corria para entregar algo importante para alguém que poderia reclamar de seu serviço prestado com 5 minutos de atraso.
A velha no chão.
Ela continuou a andar também.
"Problemas arrancam a sensibilidade" pensou.
Enquanto folheava um exemplar mais recente do livro do pastor batista Ike Murdoch Phillips,pensou em como seria bailar ali em plena avenida carioca,ou pintar o Museu de Arte com cores vivas como as que viu em um livro sobre pinturas africanas,pensou em decorar postes com cetim e colocar ao lado de cada semáforo uma poesia de Wally Salomão.
Desceu no seu ponto rindo sozinha.
Ao chegar em casa deu leite ao gato,ração pros peixes,assou sua lasanha vegetariana e dançou ao som de Beethoven,ouviu aplausos ao deitar-se,após longa oração.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Silvana

Silvana desacreditou quando desembarcou em Paris.
Economia de dois anos pra conhecer a cidade tão bem cantada por Edith Piaf,Cidade Luz.
Foi sem um amor na bagagem.Na cidade mais romântica do mundo.Silvana tomou vinho sozinha,degustou azeites carissimos e tomou cuidado com crossaint's engordativos e deliciosos.
Não houve lágrima ou desespero.Soube ser companhia pra si.
Brasileira,amazonense,flamenguista e corretora de imóveis,alegrou-se ao tirar fotos de cada canto da cidade e postar em seu blog pessoal.
Comprou alguns "souvenier's" para seus 7 sobrinhos,2 amigas e para o ex namorado hoje casado com sua cabeleireira.
Silvana tinha marcas no coração que o tempo podia até fazer questão de não apagar,mas na lembrança guardava apenas o fogo ardente de ser feliz independente da variedade de atuações de vários amores deixados a beira da estrada.
Uma semana restava para voltar ao Brasil,foi em um antiquário na tarde bela e fria de uma Paris atual observando os quadros abstratos a frente reconheceu os fios longos e loiros de uma antiga amiga.
Denise.
Haviam estudado o colegial juntas e nunca mais se viram;Denise apresentou o marido e logo foram jantar a três em um pequeno restaurante calmo,regado a vinho e boa conversa.
Relembraram.
Antoine um típico francês alto e magro ouvia a conversa calado e atento ao português que vinha aprendendo desde que conheceu Denise na Embaixada Brasileira onde ela trabalhava como secretária a exatamente 3 anos naquela noite.Tímido propôs que a brasileira fosse a casa deles no dia seguinte marcaram o horário e antes mesmo que Silvana pudesse se dar conta um táxi a esperava na porta do hotel para levá-la a casa dos amigos.
Ao chegar,Denise esperava sorridente na porta cheia de flores em um belo endereço da cidade,no olhar de ambos algo diferente,certa sensualidade pairava no ar.Frisson.
Conversaram amenidades.
Entre um copo de vinho e outro,Denise a beijou.
Elas se beijaram.
Antoine olhou tímido.Tirou a roupa,tímido.
E na bela cidade levemente fria um casal mostrou a beleza da cidade.
A beleza dos corpos entrelaçados.
Silvana esqueceu de postar por um dia algumas fotos.

Fernando

Ardendo em febre Fernando foi a farmácia munido com sua receita médica.
Mau saudou o balconista e logo apresentou seu passaporte pra felicidade seja lá o que iria tomar pois não decora nada muito menos nomes de remédio desejava o retorno do paraíso que nada mais é aquele desejo sóbrio de não sentir dor.
Saído de lá com vários comprimidos coloridos tropeçou na calçada vazia talvez houvesse chutado os próprios pés na pressa de retornar a casa,apenas sua casa;noite chuvosa em São Paulo,um resfriado por presente do tempo,uma farmácia à três esquinas de casa,maus motoristas,cliclistas,motoqueiros e transeuntes dentre todos,ele.
Não sabia se o seu mau humor teria nascido do resfriado-gripe ou do abandono que sentia toda vez que chovia principalmente a noite.
Era feliz ao seu modo.
Felicidade grifada ou pontuada poderia ser infelicidade explicada.
Deixou analista,igreja ou crença que fosse.Conversava com o D'us.Deus que ele passou a crer de forma como os hebreus.Talvez a solidão reinante em cada judeu espahado pelo mundo por não terem um lugar seu e o pseudo lugar nunca ter paz foi o que o fez identificar com essa fé.
Todo judeu é sozinho.
Todo judeu sofre calado.
Tudo sou eu no silêncio da noite.
As vezes,talvez,quase sempre...palavras de seu vocabulário constantemente revisitadas;certeza lhe faltava a dúvida permanente batia em sua porta todas as manhãs.E se não fosse a música...
Ah se não fosse a Arte!
Apenas com ela ele podia ficar mais próximo do Eterno.
Valia a pena continuar em dúvidas diárias?
A consciência o questionava enquanto preparava Leite com aveia e mel.
Confusão seria resposta para os que procuram o caminho alternativo?
Engoliu a castanha olhando pro quadro de Nina Ali Faour;um homem diante de uma cruz cravejada de diamante e sangue, no chão pétalas brancas e romãs.
Pensou em não pensar.
Era sábado,deitou-se.
Ateou fogo no corpo,chorou baixo para não incomodar os vizinhos.

sábado, 8 de agosto de 2009

Juan

"Considerando a pouca idade diverte-me teu sexo"
Eliana saiu de cima do ex aluno de 18 anos com quem havia feito sexo durante a tarde toda na casa dela enquanto o marido viajava pela Europa com a secretária bílingue 13 anos mais nova que ela.
Os corredores escuros da Escola Estadual Felipe Hofenstiedl na comunidade carente de Peruíbe causou fetiche em Eliana desde o primeiro dia em que ela entrou para ser voluntária e acabou lecionando português em aulas de reforço.
Num dos muitos dias nublados de São Paulo conheceu Juan,jovem moreno de cabelos pretos lisos,olhos grandes escuros,boca carnuda e dentes branquissimos,1,73,fala firme de quem sabe soletrar Liechtenstein.
Juan tinha interesse nas palestras sobre autors nacionais,gostava muito de Guimarães Rosa e aprendeu com a bela professora que até então não tinha notado a apreciar poesias tornando-se em pouco tempo fã confesso de Wally Salomão.
Não conversavam.
Apenas as palestras lhe interessavam.
Quando completou três meses de aulas ininterruptas houve uma pequena festa e Juan surpreendeu a todos tocando uma bela canção de Adriana Calcanhoto e Wally Salomão,foi a primeira vez que Eliana gozou sem ter sido tocada por ela mesma ou por outro.
Ao chegar em casa transou com o marido como se estivessem voltado aos 18 anos e em sua cabeça estavam num banco de um carro qualquer,sujeitos a serem multados,vistos,abordados enfim...O frisson do novo,do poético com o real a distanciavam daquele grande apartamento do Morumbi outrora habitado por duas pessoas de meia idade que comem comida sem sal e preferem piscina à praia.
Pela manhã um beijo rápido no marido e escola.
Espera por Juan.
Ao chegar Juan percebeu os olhos desejosos da professora e na saída convidou-a pra ir em sua casa;um quarto-sala pequeno onde mal cabiam cama e geladeira,mas eles utilizaram tão somente a pequena mesa redonda.
Gozaram juntos.Suaram juntos.
Levantaram-se juntos.
As aulas acabaram.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Edu Mackenzie

Se ele soubesse o que fazer não estaria ali parado de frente pra geladeira de porta fechada.
Não havia tostão algum em seus bolsos a não ser as moedas dos três ônibus que tinha que pegar pra ir ao teatro,ator iniciante carreira/perigo disse sua mãe,até aquele momento ele pode respirar nem sempre sossegado mas com nariz em pé.
Caipira em cidade grande Eduardo Souza Pires nome de batismo de Edu Mackenzie o ator de teatro homem negro da pequena cidade de Piquete,sempre sonhou em frequentar a Faculdade Presbiteriana Mackenzie que ouvira falar bem através de jornais e dos membros da igreja que sua mãe frequentava,ela mulher pobre empregada doméstica que criou o rapaz com pouco arroz e feijão e muita severidade advinda do amor incondicional a este.
Edu conheceu o teatro na escola quando lia os jornais levado pela professora para sala de aula e ali no caderno jornalístico destinado a artes ele viu algo intrigante uma ator de televisão longe daquela luz da tv,aquela maquiagem rica,aquele jeito de que "tudo sabe" que só a tv proporciona,viu um ator de tv totalmente modificado.
Não sabia identificar o que.
E foi a primeira impressão que teve depois confirmada por outras vezes e chegou a um determinado pensamento:"Atores mudam no teatro,recebem vida ali"
Passou a sonhar com teatro e um dia sonhou estar em cima do palco,sim,ele como ator;sua mãe na primeira fileira também recebia aquela luz que só o teatro proporciona,acordou sorrindo.
Aos 15 anos saiu de Piquete e foi morar com um casal de tios em São Paulo viveu com eles durante três anos e quando pegou certa confiança na cidade se achou pronto a ir morar sozinho num pequeno quarto/sala pra moços solteiros.Trabalhava como entregador de gás de cozinha durante o dia e fazia teatro a noite começou fazendo curso numa pequena sala disposta pra oficinas pela secretaria de cultura da cidade.Dali foi convidado a participar de um grupo de teatro e começou seu trajeto artístico.
Sua mãe não o vira no teatro após 2 anos de já ter iniciado,ela cria no talento do filho mas tinha medo da falta de sucesso que este meio de trabalho premia seus ardorosos valentes..
Em um mês de Abril Dalva Souza Pires fechou os olhos e dormiu.
Edu Mackenzie voltou a Piquete pra enterrar a mãe.
Pegou os pequenos pertences,alguma economia e voltou a São Paulo.
Não chorou.
Três dias passados Edu Mackenzie estreou como ator protagonista de um musical europeu que seria montado no Brasil por uma temporada de três anos,após um ensaio cansativo de danças e canto voltou pra sua kitnet tomou um banho rápido e pensou em fazer chá.
Ao caminhar em direção a geladeira,chorou.Olhando a geladeira de porta fechada reavaliou a vida que se fechará num fim.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

BenCastle

Estava sozinha até aquele momento,quando ouviu o carro do vizinho chegar na casa ao lado.Foi até ele e não se ateve simplesmente em olha-lo:tenho sentido algo aqui dentro de mim que pode ser chamado de amor.
O rapaz com seu sorriso sempre belo disse:Não tenho pretensões em me amarrar a quem quer que seja.
Mônica deu um passo para trás e saiu.
"Como pude ser tão tola?"
Indagada por si mesma,não chorou apenas tomou uma aspirina antes de se deitar.
Acordou de madrugada,com dores musculares,dor de cabeça e vômito.
Pensou em levantar da cama mas não conseguiu,vomitou ao lado da cama jogou um travesseiro em cima do líquido amarelo que saiu da sua boca,olhou pro teto e viu animais irreconheciveis mistura de hipopótamo com escorpião,elefantes com asas de morcego e tudo a girar.
Seu corpo ardia debaixo de edredons caros e sem niguém ao seu lado.
Telefone caiu ao chão e ela não conseguia alcança-lo.
Não dormiu,mal acordou,pela manhã agradeceu aos céus pela melhora.
Foi até o carro do vizinho que estava pronto pra sair e disse:Sofri por mim ao amar a ti mas hoje percebo que senão fosse a dor passada não seria capaz de te dizer adeus.As chaves estão aqui volto hoje pra BenCastle minha cidade Natal,procure-me quando tiver certo do que sentes primeiro por ti depois por mim.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Rosélia

Ela cantou alto naquela manhã.
Rosélia mulher séria com idade média,estatura média,religiosidade média,negra de tonalidade média,mezzo soprano.Vivia em seu apartamento com casal de papagaios inférteis,um cachorro vira lata bem próximo da beleza de um pequinês.
Assistia novela as 18:15 pontualmente as segundas feiras,trabalhava o resto da semana.
Atendente de caixa em um Hipermercado sentia-se como uma planta que estava a embelezar porém nem sempre era notada.Sorria,cumprimentava,voltava a sorrir e quase nenhum cliente dava-lhe atenção:"Nada pessoal,é apenas pressa" insistia em repetir.
Falta de educação era impensado.
Em uma terça feira de chuva recebeu um "muito obrigado" de um alto homem de tez negra e sorriso lindo e este foi o primeiro de muitos à cada vez que o via o coração disparava e a pergunta lhe vinha:"Será por mim que ele vem?Serei coroada com este príncipe?"
Em sua casa deitada sobre a cama fria teve a intuição de encontrá-lo no dia seguinte,levantou-se viu e reviu roupas escolheu a mais linda no dia seguinte iria sem uniforme.Inventaria uma história qualquer sobre uma festa inesperada na qual passou a noite toda e veio direto pro trabalho tendo tempo apenas de passar em casa e pegar o crachá.Foi a fármacia comprar tinta pros cabelos escolheu vermelho intenso,mais um óleo que dá brilho como se fosse um lustra móvel cosmético.Bateu na casa da vizinha à 00:20 emprestou maquiagem alheia e pediu dicas de tingimento de cabelo.Aprendeu fazer balaiagem caseira.
Enfim o dia chegado,uma negra-ruiva com vestido tomara que caia bege,em um scarpin preto e um par de brincos luxuosamente baratos e lindos,sentou em seu posto com um crachá discreto a lhe sorrir entre os seios médios deliciosos.
A história da festa colou.
A intuição não falhou,o belo negro alto de dentes brancos e afáveis chegou e estupefato apresentou a ela sua noiva Elis,loira alta de sotaque gaúcho.Rosélia levantou-se deixando as compras do jovem Robson(descobriu seu nome naquela noite)chamou um dos seguranças do Hipermercado um Marcos qualquer solteiro,másculo e nordestino e beijou-o,tirou o pau dele pra fora da calça e chupou-o ali,foi chupada ali,tendo por vouyer o supermercado todo e o mais importante Robson e sua gaúcha ao final do gozo disse:"Desculpe o caixa esta fechado"

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Rezas

O religioso chega de mansinho perto de mim.Pede que lhe diga o que sinto,o por que de tanta tristeza estampada em meu rosto mulato;saberia responder se não tivesse sido interrogado.
Com roupas,fragrância e sutileza de sacristão mandado as feras, veio o pobre protestante(de pobre não tinha nada)tirar o peso da minh'alma.Poderá ele?
-Quero sexo com você.Disse sorrindo pra ele.
-Minha crença não permite.Disse o sacristão protestante calmamente.
-Qual inquietação te perturba? Persuadiu o protestante.
-Teria tempo pra ouvir,ou desejo de ajudar?(mulato)
-És importante pra mim,como céu pro pássaro.(protestante)
-A rejeição me é por companheira.Desconheço aceitação prévia,sorriso afável ou palavras curtas como:Eu te amo!(mulato)
-Faria o que com tais palavras?(Protestante)
-Se viessem de ti?Beijaria-te!(mulato)
-És meu irmão.(protestante)
-Irmãos se beijam.(mulato)
-Te beijaria.(Protestante)
-Eu também.(mulato)
-Mas qual a certeza de que isso aliviria tua dor?(Protestante)
-Qual a incerteza?(mulato)
-Sou fascinado pelo outro lado.(mulato)
-Que lado?(Protestante)
-Onde há silêncio e escuridão.(mulato)
-A certeza da morte?(Protestante)
-Além da certeza,quero o abraço da morte,o beijo sincero desta companheira de todos.E quero neste momento.Tenho fascínio por este lado escuro e mordaz,há tantos que choram de medo por causa deste nada vigente.Pois eu aceito.Minha oração sincera.(mulato)
-Mas um dia ela chegará a todos.Incluso estas!9protestante)
-Talvez seja isso.Não admito a possibilidade dela chegar quando queira.(mulato)
-Controlador.(Protestante)
-Morra comigo,te peço.(mulato)
-Meu Deus prega a vida(protestante)
-Mais uma vez rejeitado,meu destino real.(mulato)
O sacristão protestante se afasta e caminha pra casa.O mulato sentado canta uma canção de ninar na espera do próximo clérigo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Manoela

"Eu não preciso de você".Ela tentou gritar.
"Eu ainda não preciso de você".Foi o que disse.
Manoela,35 anos,sem filhos,parentes ou amigos próximos.Tinha um marido,tinha.
Luís Alberto,49 anos,bancário,simpático,sedutor,carente,compreensivo,bissexual,ex-marido.
"Definitivamente minha cabeça anda fora do lugar";Manoela tentou uma reconciliação.
"Se tuas palavras tivessem tão pouca penetração como teu pedido de perdão estaria tudo correto".Luís Alberto sempre taxativo,aliás era parte de seu ofício.
"Falta isso".Manoela diz desesperançada
"Falta mais ou falta menos?"arrisca-se Luís.
"Disposição,disposição me falta pra falar do silêncio que há entre nós,e sempre irá existir.Qual foi o momento em que cobrei de ti o mesmo fogo que tens com teus amantes?!Em qual data pedi que me igualasse a teus pretensos romances?"
"Não te julgo,não te peço,não encareço presentes,não publico acusações.Mas esperava, e no fim ainda espero,até ontem esperei... ter um lugar meu.Aí,bem aí,neste teu órgão vital,onde bombeia sangue pra teu corpo que um dia adorei."
"Adorei,ouvistes?!Adorei.Músculos não foram,tão pouco agilidade.O que vi foi o charme em teu sorriso,brandura em tua face,calor em tuas mãos;Luís me fiz tua e pedi que fosses meu."
"Estas me sendo pesarosa com todo esse presságio."Interveio Luís sem palavras melhores.
"Confesso,minhas ações de bom tom não foram.Faltou-me bom senso,delicadeza e vigor.Se fosses tu a culpada sairia daqui alegre mas bem sei que és a fada de algum sonho.Mas a perfeição me causa náuseas e prefiro os lábios sonsos de quem tem por mim desejo e chama."Luís desferiu um golpe crendo ser ele mortal.
"Palavras de um homem vil e brutal.Seria o gari mais digno em sua despedida?Deixo de pensar em ti como homem e te vejo como algo,talvez um copo,mas este me é útil.Até numa despedida um homem tem de ser um Homem e isto nem o tempo muito menos o vento te ensinará és reles no carácter e quem dirá na alma!Vá!!"
Saiu ele sem vida.Pela janela do restaurante ela grita:"Teus amantes felizes sejam com amantes deles somente,há quem possa precisar de você?"
Feriu-lhe audazmente,tomou chopp com colarinho.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Campo,Camponeses

Do outro lado da parede tem um campo de futebol meninos correm atrás da bola todas as tardes e manhãs,rapazes transam com mulheres suas na madrugada,mulheres passam com saias esvoaçantes para suas missas e cultos em punho Bíblia e terços,neste campo não passa boi e nem boiada,passam Tarcísios,Marinas e Ignácios.
Quando era pequeno e em Deus acreditava via o céu azul e um muro despontava,seguido de dragões,castelos e guerreiros formados de nuvens brancas e também escuras que desmanchavam em chuvas finas na tarde de Pombal pequena cidade a leste do arco-iris no fim da escada de mármore da mansão de Sinhá Ilusão,senhora distinta em constante alegria.Nasci assim em Pombal,me lembro de estar sentado desde sempre.
Corri pouco ou quase nada.Corri nos sonhos,ali também pedalava.Numa noite de sono em sonho subi num pé de goiabeira,atirei umas cem dentro do cesto e levei pra Benta,tia mais velha de minha mãe fez-me doce até enjoar;eu e ela comemos pouco só o cheiro abastecia.
Tia Benta depois do banho contou uma história,começava assim:"Dentro da noite escura,entre o espinheiro e a rosa clara tem um poço que cheira absinto quem ali pular vira peixe e não mais volta",acordei.Tia Benta não estava foi morar em Rio D'Agua lá pras bandas de Tiro Milho longe que só vendo,fui até a cozinha pegar bolo de aipim e café quente vi dos lados de lá do campo de futebol um negrinho sendo espancado por três homens ruins,gritavam:"Mardito nego,pego agora paga".
Nenhum furto de pêra ou maçã(isso estava na mãos do menino negro)valia a sova que levava de três homens,estirado no campo ficou o negro com seus 13 anos de vida esvaindo sangue pelo nariz e choro de quem ainda dá retorno.
O campo me traz memórias boas no tempo quando cria em Deus,o campo me fez chorar quando cadeira de rodas lembrou quem sou eu.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Porto Alegre

Ele se vai...
Rogério todo pôr do sol estranhava o coração se apertar na despedida diária.
Homem bonito de 30 anos descendente de japoneses que vieram ao Brasil tentar a sorte e lhes sorriu esta predestinada bondosa senhora que com ajuda do governo brasileiro que abraçou os nisseis,sanseis e demais.
Coube a família japonesa Kawauri não se fazerem de rogados houve trabalho duro e sorriso farto aos compradores que fizeram da pequena venda um grande negócio que se tornou de variados braços ao longo de 10 anos com o crescimento da família;Rogério se afastou dos pais e irmãos assim que terminou a faculdade de publicidade feita em uma das melhores faculdades de São Paulo e foi morar em Porto Alegre,levado por uma paixão inconsequente,foi com uma negra gaúcha pros Pampas e lá chegando durou mais dois meses de namoro e terminaram o romance como bons amigos que não se telefonam,não trocam e-mails e não vão ao cinema.
Rogério sentou de frente pra sua varanda que do décimo sétimo andar avistava boa parte da linda Porto Alegre imaginou integrante de um mundo diferente a ele,um mundo de homens e mulheres latinos,falantes,prósperos em suas vidas íntimas.Consultou o coração dentro do casulo azul e tirou fotos da cidade emprestada,seu corpo...
O corpo é uma casa emprestada.O que seria seu?
A intuição o fez escrever,a sensibilidade pintar e a descrição proporcionou que mantivesse um caso de 8 anos com o porteiro,com a empregada e o padeiro acreditando eles serem casos exclusivos e crendo ele ser sincero com todos.
"O beijo prende mas sexo liberta.Me beije enquanto te sirvo.Absorve o pouco de mim em sulcos de saliva framboesa"dizia aos sussurros nos ouvidos amantes,naquele instante amava.Ao deslizar a língua nos corpos de Helena,Bruno, Zé Jorge e Tom o lixeiro aspirante aator pornô traduzia o amor que tinha aprendido nos banheiros do colégio severamente católico,severamente triste.
"É um empréstimo,Rogério" a consciência chegou falando mansamente.
"Um empréstimo" repetiu alto.
Desceu as escadas,elevador rouba pensamentos.
Beijou o porteiro na boca em plena manhã de segunda feira,cantou o padeiro que sorriu constrangido foi de táxi a casa da empregada doméstica Helena deixou-lhe alguns tostões e um aperto na bunda.Parou num orelhão telefonou aos pais e disse num bom linguajar japonês:Arigatô!

sábado, 11 de abril de 2009

Thiago

"Se não for pelo humano de nada vale a fé".
Estas palavras marcaram o fim de sua fé protestante,o fim de sua fé cristã,o fim da fé.
Thiago caminhou anos a fio a procurar uma igreja cristã que o retratasse como ser humano apto de inteligência,esqueceu da infância marcada por manifestações pentecostais que fugiam de qualquer moderação,das loucuras que via em pessoas boas e pobres correndo atrás de adivinhações por vezes chamada de profecias;Thiago esqueceu de tudo e todos;acusações não faltaram.
Homem sem fé.Dedicaram-lhe este termo,um dos mais puros diante de tantos outros adjetivos.
Certo dia ouviu uma bela música seguida de uma pregação sensata em estação de rádio batista ficou fascinado pela erudição do culto,reverência dos membros,música sofisticada;colocou em seu coração a certeza de que era membro desta instituição.
A instituição fracassou.
Passado dias e noites percebeu a mesma falta de compaixão,o mesmo julgamento,a mesma anti-piedade nas falas dos muitos membros daquela igreja tão bonita aos domingos a noite e tão virulenta quanto outros ramos que havia conhecido.Cabisbaixo,prometeu a si não mais voltar.
Encontrou em suas muitas leituras uma igreja Luterana.Sendo Lutero pintado como um grande libertador protestante das mãos leves da antiga Igreja de Roma,imaginou estar sendo amparado por Deus a ir de encontro com esta nova fé.Foi até a igreja e pode sentir em cada traço da liturgia uma ponta de orgulho.
Orgulho que aflorou a cada culto reformado e criou-lhe uma barreira tão grande que já não sabia quem era e muito menos pra onde tudo aquilo estaria lhe levando.
Pessoas fechadas em sua cultura deixando o mar da prepotência tomar lugar do altruísmo.
Olhava-se no espelho e pensava:"Em que me transformei?"
Chorou pela avó morta,mulher negra,baixinha,auxiliar de cozinha,divorciada,pensionista.Sorridente.
A avó nunca fez restrições as muitas igrejas protestantes existente achava bonito a diversidade e com sua cultura de mulher negra guerreira sabia que o neto seria um galante protestante fosse tradicional,pentecostal ou Testemunha de Jeová.Ela sonhava.
Ele se lembrava da avó assim,na alegria da vida.No bater palmas de hinos pentecostais desafinado, na oração séria feita com fé,nos gritos altissismos de aleluias pelas "vitórias" alcançadas;resumiu suas lembranças com um aleluia baixo.Ele era assim não dado as gritarias,mas abraçado a felicidade.
Desligou-se da igreja fria e longínqua.Revigorou a fé na vida.
"No ser humano ao meu lado encontro a tristeza e alegria do passado"
Bateu palmas desritmado.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Elines

"E se o ferro ferir e se a dor perfumar.Um pé de manacá que eu sei existir em algum lugar"
Ouvindo Elza Soares ao interpretar Ernesto Nazareth pensou onde encontraria este produto medicinal pra aliviar sua dor.
Elines o deixou sem nada dizer.
Numa tarde ensolarada,após uma noite romântica e um café da manhã corrido como o de tantos outros; viu o sorriso dela brilhar de modo diferente as 6:30 com o sol batendo em seu rosto branco moreno de sol,garota brasileira bronzeada de amor cor da paixão reinante.
Beijou a mulher e o pequeno filho.Foi ao trabalho.
Elines sairia mais tarde.
Antes da saída e próximo ao portão ele a ouviu cantar:"Nas horas que passo pensando em Jesus.As trevas desfaço e busco a luz".Ela sempre fora religiosa como a maioria das mulheres a fé dela tinha sido desde o começo do namoro mais determinada que a dele.No seu horário habitual Elines pegou a bicicleta companheira de sempre colocou o filho na cadeira,beijou-o,conversou com ele e cantou.Cantaram,já que o pequeno menino já balbuciava melodias aprendida com a mãe e foi tudo assim belo sereno de calmaria ímpar.Elines entrou na casa da mãe sem pedir licença aquela familiaridade que só os pais conhecem e entendem,conversou com o pai e foi pra cozinha tirar dúvidas com a mãe,os velhos pais habituaram-se tanto a ver a filha entrar e sair de casa que nunca pensaram como seria não vê-la fazendo sempre deste mesmo modo.
Deixou o filho na casa dos pais e foi ao trabalho.Não voltou.
Elines não retornou.
O telefone tocou.
Tocou na casa dos velhos e na delegacia onde o marido trabalha.
Acidente.
Fatal.
Pé de manacá onde estará?
"Minha jovem moça mulher caminhas entre nuvens ao redor de anjos;entre céus e terra meu amor aqui ficará."
Escreveu esta frase no caderno de anotações da mulher,durante tanto tempo naquele caderno o balanço financeiro de cada mês e uma frase de amor a Deus e ao marido ali era deixada,desta vez foi ele a dedicar.
Elines desapareceu numa tarde quando um caminhão encontrou sua bicicleta e corpo.Frágil corpo.
Caixão lacrado.
Falta a Cláudio o sorriso de Elines.Falta aos pais da moça mulher a intrepidez gentil.Falta ao filho a cantoria religiosa.
Falta ao poeta e contista a amizade levada.

sábado, 4 de abril de 2009

Noite

Pelo retrovisor empoeirado de uma avenida movimentada um homem parado.A cena a sua frente o excita a tal ponto de perder a noção da direção que seguia,dois homens se beijam,se esfregam se comem com voracidade,determinação e carinho.Dois homens se exibem através do vitrô empoeirado.
Voltava pra casa após duas horas ininterruptas de ginástica orientações médicas,um homem aparentemente bêbado lhe pergunta as horas debaixo de uma árvore onde a sombra da mesma misturada a escuridão da bela noite o impossibilitava de ver,disse uma hora aproximada daquilo que achava ser,era apenas um ébrio a querer saber das horas,oras.
Neste segundo surge um corpo magro no vitrô de uma velha casa que beijava frontalmente a charmosa avenida.Chamava o bêbado para entrar,coisa que este fez sem hesitar.Não havia ordem ali,não havia mandante e mandado um acordo sem palavras notava-se.O homem intruso que era eu ficou a observar,dois corpos balançando de frente pro vitral,línguas passeando por corpos suados e sedentos,prazer na face de ambos.
Animalesco e belo eram esculturas vivas moldando um quarto velho.
Frases poderiam ser ouvidas mesmo sob o silêncio real ali instalado.
A mais bela visão de uma noite de sábado.Noite só.
Dois corpos quentes numa noite vazia.
Três corpos quentes observando a lua.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Perguntas e respostas

"Antes das palavras.Espírito.Depois das palavras.Espírito"
Fechou a aula com esta explicação,os alunos arrumaram suas mochilas e saíram com dúvidas filosóficas,apenas André ficou.
"Posso te ajudar em algo,André?"-disse a professora naquele momento sutil.André olhava pela janela algumas montanhas que avistava lá da serra da Mantiqueira,olhando pras montanhas fez uma pergunta:"qual seria a cor desse espírito?"
"Espírito é moldável tu tem o direito de fazer dele o que bem querer"colocou sua bolsa nos ombros e ia saindo quando o aluno perguntou:"onde ele estava quando a morte levou minha mãe?"
"Que poderia o Espírito ter feito" redarguiu a professora.
"Impedido meu sofrimento" concluiu o aluno.
"As respostas fáceis cabem aos imbecis,estas longe de tais pessoas.Conserte o mau caminho do sofrimento dentro deste coração e saberas que a vida caminha para além de perguntas e respostas."
"Eu posso fazer o favor de consertar tudo por todos mas o conserto da minha alma pertence a outro ser"
"Este ser pode ter um pseudônimo mas sempre serás tu".
A professora o deixou na sala.
Observando pela janela da sala de aula no último andar do antigo prédio de três andares antes um casarão do senhor presidente Conselheiro Rodrigues Alves,a professora sorrindo lá embaixo com outras colegas de profissão e que fora até o carro e estava tirando-o da garagem escolar.Foi até a lousa e escreveu com giz amarelo:"Aconteceu...o espírito em mim secou.Sonolento tomou forma de vento,e repousa sobre a lápide"
Caminhou até a janela tirou camiseta calça e cueca.Atirou-se dali,quis voar.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Heliodora

-É na solidão que se escolhe os amores?
Indagada pôs-se a velejar iria de Santos a Paraty num pequeno veleiro que comprara a dois verões passados e que só agora em 25 de abril decidira inaugurar,saiu revolta.
O coração dentro de si fazia um carnaval nada feliz apenas barulhos intensos,altos.E a pele a trêmular no impulso veloz;voltaria atrás se fosse este o resultado de um esforço,não o era até aquele instante.
Pensou em Márcio naquele dia bonito de vento favorável.
Conhecera o rapaz numa livraria enquanto folheava uma biografia de Clarice Lispector,ele se aproximou e pontuou o rumo da conversa.
-É uma das minhas escritoras favoritas,ao lado de Agatha Christtie e Marina Colassanti.
-Gosto de seu humor ferino e inteligência sagaz.Respondeu prontamente ela.
-Estas a falar da Lispector,creio eu.Sorriu num branquear de dentes gentis
-És tu de forma inesperada e corriqueira afável,mas refiro-me a Clarice,sim.Retribuiu o sorriso.
-Café ou chá?
-Café.
Foram à cafeteria da livraria e deixaram o silêncio bater-lhes ao rosto.Ela começou enfim...
-Frequento à um tempo esta livraria primeira vez que te vejo aqui.
-Fico reservado na área administrativa.
-Proprietário?
-Sócio.Eu e meu irmão deixamos o ramo familiar de imóveis e demos asas ao nosso sonho artístico.Meu irmão tem mais talento além de nossas livrarias ele faz teatro,eu me confino aqui e por vezes escrevo.
-Estar confinado em uma livraria tão bem amparada de mestres em suas estantes,como esta,deve ser algo interessante.
-Os livros podem ser frios a noite.
-Eu preciso ir.Levantou-se ela num rompante.
-Espero reve-la teremos uma noite autógrafos com Fabrício Carpinejar o escritor e poeta, na noite de quinta feira és minha convidada ilustre.
-Nem sabes meu nome.
-Teu rosto não esquecerei,estarei aqui a te esperar na quinta feira.
Sairam.Ela pela porta de vidro a fora,ele para sala administrativa.
Quinta feira de inverno um escritor e poeta fala sobre sua vida e arte,um homem e uma mulher que mal se conhecem estão de mãos dadas sem pensar no universo.
-Agradeço por ter vindo.
-Agradeço pelo convite.
Fim de autógrafos e coquetel,prometeu levá-la em casa sobre protestos da mesma,conseguiu no entanto faze-la aceitar a carona.
-No momento em que te vi soube que de ti precisava.
Pasma com o súbito desabafo,suspirou...
-Uma declaração de amor tendo em vista que nos conhecemos a dois dias.Tom de voz repreensivo.
-O tédio me fez pular da zona de conforto e confronto meus medos pra dizer que estou apaixonado.
-Eu aceito.
-Obrigado.
Dormiram abraçados e contentes encaixaram-se perfeitamente sem grunhidos ou gritos de histeria somente a satisfação de gemidos que se completam.Na manhã seguinte mel,torradas e suco de uva.Trocaram telefones pessoais e comerciais assim como e-mails,beijo longo antes do adeus,até breve ou tchau.
Era uma despedida.
Na mesma manhã Heliodora caminhou ao cais,não mais voltou.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Atriz

-Disse adeus.Quando queria correr atrás,abracei o céu e apertei-o rente ao meu peito infeliz.
Aplausos.
A platéia ficou encantada com a última fala da atriz,inclinou-se perante o ovacinamento e delicadamente saiu do palco,sonhara a tempos em fazer aquele espetáculo fôra estudante ferrenha daquele dramaturgo russo.Sua velha avó antiga bailarina lia pra pequena neta as peças deste magnífico,e no seu imaginário de menina pensava apenas em dançar sobre cada palavra do livro,preparou desde então seu ballet.
Ao crescer teve certeza,a dança lhe abençoara pouco,atriz seria.
Sempre envolta nos teatros da cidade empobrecida apaixonou-se pela ribalta,ao retirar a maquiagem no camarim tão bem arrumado uma lágrima saltou dos olhos uma puxou a outra e muitas deram as mãos.Chorou sozinha no camarim arrumado.
Felicidade misturada a tristeza acorrentada ao medo.
Seria o que após aquela apresentação?
Desceu ao estacionamento pegou seu carro e foi a uma padaria próxima de sua casa,degustou um bolo de chocolate acompanhado de matte sem açúcar e pesquisou a alma.
O que estaria sentindo?
A paz até aquele momento não lhe tinha sido apresentada saberia dizer pouco sobre ela ou mesmo reconhecer seria difícil,os olhos haviam secado e a sequidão chegara aos lábios,boca e garganta nenhum chá,suco ou àgua trouxe alívio.
Foi-se.
Trancou-se em casa só.
Pegou o livro antigo da avó,folheou-o inteiro nenhuma emoção.
Nenhuma recordação.
Nada.Emoção mudou pra casa ao lado.
Estranhou.
Na semana anterior quase havia fritado os rins da empregada que deixou o livro cair fazendo com que a capa descolasse,vôou ao pequeno livro
como se pudesse ressuscitá-lo;olhos inchados ao ver seu pequeno russo ao chão.
Entristeceu-se pela empregada que não mais voltou.
Caminhou pela casa foi ao jardim,preparou um chá de melissa,deitou no sofá.
Tudo em silêncio.
Tudo em...paz?
Chá pronto...aprendeu com a avó esse hábito por:"água quente com gosto".
Esperou o chá esfriar consultou o relógio.Pegou a chaleira mais linda com adornos russos foi ao cemitério.
Lavou o túmulo com poucas gotas d'agua quente.

domingo, 1 de março de 2009

Emmy

-Que procuras?
-Se bem vejo estas aí já faz um tempo.Que queres neste baú?
-Que queres?Talvez possa te ajudar.
Ela deixou de insistir e foi pra cozinha havia de terminar o jantar dos hóspedes.A velha se preocupava com aquele rapaz de 25 anos óculos pretos de lentes tão limpas que seus olhos azuis resplandeciam mais.Uma mistura de amor de mãe e desejo de mulher,era uma senhora de seus 65 anos mas estremecia por homens de variadas faixas etárias,sociais ou etnias.Mas por este jovem era um misto de cuidado e sexualidade aflorada,cortava a couve com uma firmeza vinda da excitação de ter estado no quarto do jovem calado de olhos claros brilhantes.
-Onde esta o Carlos,D.Emerinda? a pergunta cortante interrompeu frenesi erótico com aquele vegetal.Rogério o hóspede não querido.
-Me chame de Emmy,já te disse isso.Quantas vezes terei que repetir?
Rogério sabe que sua permanência ali se dá apenas pelo fato de seus pais pagarem em dia e serem amáveis em todas petições de D.Emerinda.
-Sabe como é o gás esse mês,aumentou!Sabe como é a alimentação sempre esta pela hora da morte!Sabe como é por mais que goste de seu filho hospedaria pede um pouco mais de lucro,os gastos são imensos!
Atendida em suas petições a permanência prolongava,mas afeição ao rapaz sempre fora negada.Jovem bonito mas extrovertido ao extremo:homens têm que ter um charme calado. Era o seu ditado sempre repetido entre as muitas amigas do forró.
Rogério leva pouco a sério o fato da falta de empatia entre ele e a dona da pensão contanto que tivesse um telhado lhe abrigando do sol e chuva sem que tivesse de pagar um tostão já lhe era lucro;seu parco salário de auxiliar de escritório ficava entre botequins e casas de massagem,a palavra prostíbulo a tempos desusada uma forma digna de nomear a casa onde vários favores são dedicado aos clientes e pode até ser que tenha massagem.Não?
Rogério pegou uma maçã e saiu.Obteve a resposta de D.Emerinda apenas um resmungo.
-Uhnf!
Era o código ente ambos significava:Esta tudo bem!!! Não se preocupe!!!
Alguns hóspedes desceram pro almço e já saiam pro trabalho.Emerinda deu sorte com hóspedes ao todo 25 na maioria artistas que por mais incrível que pareça tinham dinheiro pra pagar seus pequenos aluguéis cobrado todo dia 05 do mês sem direito à atrasado com pena de gentilmente serem convidados a retirarem-se,ninguém queria ir pra longe dali.Emerinda era uma dessas sérias mulheres convidativas.
Carlos almoçava pouco quase sempre não descia do quarto.
Emerinda levou-lhe sobremesa.Ao entrar no quarto Carlos continuava a investigar o baú velho,Emerinda sentou na cadeira de balanço do quarto colocou a sobremesa sobre a cômoda e ficou a olhar o rapaz.
Carlos tirou a roupa e ficou de frente pra ela.
-Que procuras?disse ele
-Se bem vejo estas aí já faz um tempo.Que queres?repetiu a fala da mulher
Emerinda com olhos úmidos e voz consoladora explanou seus poucos pensamentos naquele instante.
-Quero o favorecimento de teus braços ao meu redor.
-Isso tão somente? desafiou o rapaz
-Podes me oferecer mais? a mulher gostou da brincadeira
-Te ofereço um baú.Confiante ele esperou uma resposta positiva
-Um baú?Estou diante de você pedindo e oferecendo o possível e além deste.E tu me propõe um baú?Irritadiça a mulher se levantou.
-Entendeu mal.O rapaz já flácido tentou explicar.
Enraivecida a mulher saiu.Mais tarde voltou.Encontrou o rapaz remexendo no baú como o dia todo fizera.
-Sou uma mulher envelhecida pelo tempo,negativamente te da o direito de brincar com o que sinto por ti.Iniciou ela.
-Pare teu monólogo,iria te dar o que queria mas pra isso tinhas que aceitar o que tenho.
-Um baú?
-Sim um baú.Qual o mal?Aceitarias um lagarto?Uma Bília?Ou diamante fraudulento?
A beleza de um baú desprezas por necessitar da aprovação de outros;queres sentar em teu bar em um destes teus bailes e contar pra suas muitas amigas o que ganhou de um homem mais novo que lhe trouxe vida.Algo que lhes encham os olhos,que lhe incha o ego.
-Ao aceitar este baú recebe o bem que posso.
Ela ajoellhou-se e lambeu a calça jeans do rapaz na altura da braguilha que denunciava um pênis grande e duro.
-Eu aceito teu baú e o que nele conter.
Levantou-a e com os dedos masturbou-a e beijou lânguidamente
Não houve um amor naquela noite houve sim um encontro de dois corpos quentes maduros.
E na manhã seguinte um rapaz de barba feita sorriso enigmático desceu pro café da manhã e também pro almoço.
Rogério sem coragem de perguntar-lhe esperou ele subir e de súbito foi a Emerinda.
-Emmy que aconteceu com Carlos?
-Já te disse que é pra me chamar de E...Acertou?Sabia que era gracejo este seu esquecimento.
-Que aconteceu ao Carlos?impaciente insistiu.
Emerinda deu de costas e resmungou:
-Uhnf!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Confeitando

Confeitando seu milésimo bolo naquele dia fatídico imaginou não estar ali,num dia nublado onde tudo parecia nada acontecer e ele lá para lá da estrada vermelha de seus sonhos sem fim.Seria o último bolo daquela tarde e terminado este trabalho pôs-se a caminhar em direção...certeza lhe faltava.Pra onde iria?Ninguém a lhe esperar em casa!Ninguém pra visitar naquela cidade estranha.
Desobedeceu as regras da educação e bateu numa casa que sempre passara em frente e que de leve acenava a cabeça em cumprimento ao dono da mesma,tocou a campainha e de súbito uma senhora de cabelos brancos atendeu-lhe:"Boa tarde",disse ela.
Não havia pensado em uma conversa.Como iniciaria um prólogo com esta senhora que até então nunca tinha visto ali?
-Boa tarde,eu sempre passo por aqui e hoje resolvi conversar um pouco.
Percebeu a besteira que falara mas como correr atrás das palavras já soltas ao ar?
A senhora sorriu e disse:
-Eu já sabia
-Sabia?
-Você faz o estilo do homem que se arrepende tarde!
-A senhora é feiticeira?
-Poderia me ofender com esta pergunta.
-Me desculpe,ruborizou.
Gargalhou a senhora,e disse:Entre,na porta a conversa se desvia.
Entrou ainda vermelho por ter chamado a senhora de bruxa.Seria pela idade?Beleza ela tinha,beleza de uma senhora que havia vivido de forma agradável dos quais arrependimentos não havia,e se estes existem já foram sanados pela sabedoria própria.
-Não imagine que todos velhos são sábios.
Ela interrompeu seus pensamentos com essa adivinhação.
-Mas...como?
-Como sei que você estava a pensar isso?Ora meu rapaz você é tão claro como àgua servido em taça de cristal.Na vida precisa-se aprender a driblar a inocência.
-Tenho me sentido inferior a mim mesmo.Confessou ele
-Como?Explique-se
-Não sou metade daquilo que já fui e caminho pouco em direção ao que quero ser hoje.
-Sente-se perdido em amores ou ciladas? a velha continuou taxativa.
-Procuro desvendar as ciladas e descubro que podem ser amores.
-Amores podem ser encontros de uma noite e nada mais.Investigue a necessidade que tens de aproximar-se pedindo acolhimento.Algo teu ou imposto?
-Compreendi pouco.
-Impuseram-lhe a necessidade de pedir perdão pelo que és?Ou lhe é natural desculpar-se?
-Não saberia dizer.
-E agora sabes?
-Não,ainda não.
-A senhora viveu romances?
Como sonhadora a velha respondeu:Vivi um amor!
-É este senhor com quem encontro na ida e na volta do trabalho sempre?
-Não,não.Este é meu irmão.Ficou viúvo cerca de três anos e suporta pouco viver só.Veio morar aqui.
-A senhora também é viúva?
-Quase.
-Quase?
-Matei-o em meu coração.
-Traição?
-Sim.
Ele esperou um pouco mais;a velha percebeu e assim queria.Continuou.
-Traiu-me quebrando nossos princípios tínhamos um pacto,consistia em nunca deixar de nos fazermos felizes,na dor e principalmente na bonança que é a fase mais fácil de esquecermos o ser amado.Em uma noite qualquer ele chegou cabisbaixo e assim fez por três meses.Nenhuma conversa animava-o até que um dia me contou estar com câncer.
-A senhora divorciou-se num momento tão difícl como esse?
-Não;não o deixei.Ele nos deixou.
-Compreendi pouco.
-Não há traição maior do que fazer exclusiva a dor que deve ser compartilhada.
-Compreendi.
-Pouco?Ousou a senhora a fazer uma piada.
-Ao contrário compreendi tudo,ou pelo menos uma boa parte.
Riram juntos.
-Descuple-me posso te oferecer um chá?
-Não,obrigado já estou de saída.
-Obrigada pela visita.
-Estou convidado a voltar?
-Só em dias nublados.Gargalharam!!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Encontro

Fechada a porta do carro Fernando entra em casa calado,pega o telefone e disca pra pizzaria:"Uma de milho,por favor.Travessa Miller Jardim,95,Centro".Com as costas pesadas de carregar um peso extraordinariamente maior que si tentou relaxar no sofá,o nada ambivalente lhe causou náuseas,levantou foi até a janela abriu as cortinas e absorto ficou.Em um instante qualquer lembrou que daquela favela em frente a sua janela balas perdidas poderiam ser recorrentes,afastou-se.Até então ninguém conhecido morrera em um acidente como este mas havia pânico provocado por várias falas tv,vizinhos,jornal,internet."Ama-se a violência mesmo quando ela é quase inexistente",pensou.
A pizza chegou e como sempre pagou desgostoso e não deu gorjeta alguma.Uma,duas fatias e nada mais,as sobras iam ao lixo e amanhã outra pizza talvez de champignon.
Fazia um tempo que não se relacionava com alguém,alguém era um termo abrangente apropriado a sua bissexualidade,passou o tempo de predador indomável quando saía para bares,bailes,jogos de futebol que odiava por simples desejo de trepar;começou a repensar sua conduta.
Depois de transar com todas as melhores amigas,com o síndico,o porteiro,o faxineiro,os vizinhos do apartamento de cima,de baixo e outros dois ao lado, repensou.Colocou-se numa sala interior em busca de sentido,pouco importa
o tamanho deste o caminho percorrido é intermitente,fez uma religião.
Uma religião sem nome,sem normas, sem ele.
Pensa-se.Tão somente isso.
Três horas e meia depois tomou um banho,bebeu açaí e saiu.
Uma volta de carro pra espairecer e poluir um pouco mais o planeta,encontrou um velho conhecido de colégio Renato seu nome,por coincidência encontraram-se próximos ao colégio que estudaram.Renato havia pensado a mesma coisa que ele toda vez que se sentia triste oco por dentro ele passava em frente ao colégio pra lembrar que um dia foi feliz,obra do destino neste dia decidiu descer do carro e ir até o portão sentir o frio das grades de ferro fazendo por um segundo retornar a infância.
Encontraram-se ali.
Amaram-se no apartamento de frente pra favela com a possibilidade de balas perdidas.
Fernando saiu de si e entrou em outro.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Árvore

Pendurou uma corda na árvore antiga,plantara tão frondosa espécie sendo garoto 10 anos de idade contava, neste tenro período sonhava em ser biólogo após breve explicação do pai sobre o que viria a ser tão profunda ciência,herança familiar os avós maternos haviam exercido esse ofício decidiu a partir daquele dia cuidar do mundo verde.
Naquele quintal plantara de tudo goiabeira,amoreira,hortaliças,flores na varanda de casa era de dar inveja a qualquer floriculturista, viveu entre plantas e família,chegara o período de namoro Rosa sua primeira garota recebeu buquês infindos até o dia que exigiu uma aliança de compromisso recebido dentro de uma violeta.A primeira transa do casal foi inesperada e encostados na bendita àrvore que ele passara a amar desde então;toda ruptura do casal era desfeita com o envio de uma Tulipa e foram tantas Tulipas que a preocupação foi grande caso acabassem as mudas desta conciliadora eficaz.
Casaram-se ao ar livre num campo repleto de beleza natural.Verdade dita este bicho grilo não se tornou biólogo e sim fazendeiro negativamente deixaria sua vida,sua roça pra fazer faculdade longe e depois de casado o que lhe interessava era Rosa e seus possíveis filhos.Estes não vieram.
Por dez anos esperaram,rezaram,fizeram promessas,trocaram de religião,voltaram pro catolicismo mas os rebentos por força do destino os deixaram a esperar por uma vida toda;eles se bastavam.Afilhados tinham aos montes Rosa tinha 6 irmãos ao todo dezesseis sobrinhos,todos queridos e cientes do amor incondicional de tios quase velhos.
Enterrou os pais no cemitério próximo coroas floridas deixava pra cada um toda semana.
Rosa sentiu-se mal no final de uma tarde quando observava o pôr do Sol costume da moça interiorana,um aperto no peito dizia ela,deitou-se e dormiu.Ele despertou ao fecharem o caixão de Rosa e rezarem Ave Maria,chorou.
Ao olhar pro quintal após uma semana sem Rosa,agradeceu aos céus pela vida que teve com bela mulher,pelos afilhados recebidos de presente,pelos pais tão fortes e corajosos nenhuma lágrima escorreu.
Foi ao quarto de depósitos de ferramentas pegou uma corda amarrou firmemente na árvore amiga de tanto tempo,laçou o pescoço num final de tarde de setembro.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Celso

Foi num turbilhão de problemas que ele pensou em recomeçar,havia tantas coisas a serem feitas só faltava o primeiro passo,a direção lhe faltava.Tomara proporções gigantescas aquele último jantar.Dias antes reservara dois lugares em um luxuoso restaurante(nem tão luxuoso assim mas para o seu bolso semi vazio de jornalista era uma fortuna)fez free pra algumas revistas internacionais que gostam de explorar a imagem do país no exterior como canibais que andam em Mercedes Benz coisa que jurara desde a formatura nunca se dispor a fazer.
Mulheres;elas mudam os cursos da vida de um homem,de qualquer homem.
Já no restaurante a espera foi de mais ou menos uma hora,quando à viu entrar pelas portas com seu vestido vermelho tomara que caia pensou:"Não caia vestido,não aqui"a idéia de outros homens ver aquele tesouro que ele por meses garimparar lhe causava fúria mortal,sorriu.
Ela afoita em sua maquiagem de Ava Gardner pediu desculpas pela demora num tom grave de Marlene Dietrich e calou-se.Entrou num absurdo silêncio e olhar hipnótico pro relógio de um antiquário qualquer do século 15.A noite começara de forma abrupta pensou que fosse charme.
Tentara outra vez uma conversa trivial:"Soube que a editora da tua revista tem visto teus artigos como os mais excelentes de todos os tempos daquela redação"
-Ela é uma simples redatora gentil,respondeu a moça asperamente
-Já faz algum tempo que ela não elogia alguém dessa forma com toda certeza tua perspicácia foi aguçada pelo teu ótimo desempenho.Tentou ele pela terceira vez.
-Eu não faço por mal e nem por bem,faço o que faço pelo sentido de fazer.A resposta da minha vida esta na consequência dos exercícios,sejam intelectuais,físicos e amorosos.Este último item foi enfatizado num tom leve e firme seguido de uma outra frase feliz.
-Pague a conta!
Sem acenar a possibilidade de contrariar a mulher que até então desconhecia,pagou o jantar e levantaram-se juntos foram em direção ao carro dele e uma mão compenetrada entrou por sua braguilha.Ali em meio a carros e motel a jornalista exercitou seu dom peculiar.Após rápido prazer ela chamou um táxi e foi-se.
Na tentativa de reencontra-la caixa postal no celular,e negativas no trabalho.
Plantou-se no prédio da pequena editora até ver a jornalista de bom texto ao meio da tarde quando ela saiu apressada do prédio ele correu e diss-lhe:"Ainda bem que te encontrei" meio se ar continuou:"Tenho tanta coisa a ti falar mas andas sem tempo não é verdade?"
-Não,não é verdade.
Pausa.
-Não,não é verdade.
Pausa
-Você queria saber e te respondi pra quê esse olhar de espanto?
-És decidida demais não acha?
-Não,não é verdade,apenas gosto que me abordem com flores nas mãos e me convidem pro motel mais próximo e limpo.
Com um nó na garganta ele tentou novamente.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A flor

Brotando do peito uma flor amarela percebeu logo que desabotoou a camisa na chegada do trabalho as 17:40 de uma tarde de quinta-feira.Em uma quinta feira percebeu o brotar de uma flor amarela.Correu ao espelho e ficou estático vendo no peito a mudança ocorrida,sentiu medo angustia enfim;como contaria a esposa,aos amigos e o filho de quatro anos e meio entenderia?
As crianças sorriem sempre com a natureza talvez o filho fosse o único a entender completamente,mas e os vizinhos?Nunca mais tiraria a camisa pra lavar o carro nos finais de semana ensolarado ou na praia com os amigos,e a chuveirada no final do futebol já tinha por esquecida.
Com o filho na casa da sogra e a mulher pra chegar apenas as 21:00 pôs-se a pensar em como seria sua vida pós flor no peito,teria de tomar mais banhos ao dia?Expor ao sol?
Pensou em tornar-se floriculturista assim poderia tirar suas dúvidas sem problema aparente e foi assim que estava no devaneio quando ouviu o tilintar das chaves que vinham da sala de estar.Mônica chegará tão apressadamente e gritara:Surpresa.
Esposa e filho chegaram num roupante;com naturalidade pôs se sentaod na cama do casal a espera da chegada dos amantes queridos.A esposa pasmada com a cena de seu marido com uma flor amarelada nascida no peito sussurrou:Meu Deus!
Na volúpia infantil o filho correu ao pai e beijou a flor.Vinícius tudo entendeu.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Paulo,um quase João

Abriu a geladeira procurando algo que nem sabia ao certo o que viria a ser.Ouviu o velho cachorro resmungar um grunhido qualquer jogou um pedaço do frango recortado e cozido pro gordo Weimaraner cujo nome era Pico Terceiro lera um livro dos muitos de história do Brasil e colocou em seu cachorro este nome já que Dom Pedro pode ser Primeiro e Segundo por que seu cachorro não viria a ser Pico Terceiro mesmo não tendo existido algum primeiro quanto mais um improvável segundo.
Paulo seu nome 39 anos solteiro sem filhos morou três anos com uma moça na sua juventude e prometeu pra si não cometer esse sacrilégio contra a alma tanto dele quanto dela.Restringiu o amor ao tópico bobo da paixão,sempre que se sentia apaixonado ele dava asas ao sentimento e refreiava qualquer tipo de intromissão de fora.Amigos,família,religião nada pudera impedir suas paixões cria ele ter o poder de dar uma brecada na paixão no instante que quisesse assim viveu...
Chefe administrativo de uma empresa nacional de renome na América Latina sentia-se confortável com a profissão mantinha uma boa relação familiar filho único e atencioso aos pais que não o entendiam totalmente mas o aceitavam incondicionalmente.
Aos 39 anos comendo frango frio no almoço e bendo vinho branco de acompanhamento decidiu se arriscar mais,colocou um bom tênis bermuda e camiseta e foi caminhar.
Reviu velhos vizinhos que mais pareciam novos pois os vira com uma irregularidade tal,sentiu-se um estrangeiro no seu próprio bairro uma pequena Dinamarca em sua cidade.
Caminhou horas a fio e pode ouvir pássaros cantando,corais de igreja entoando Bach,ajudou uma senhora com as compras se sentiu util e na volta pra casa Pico Terceiro o aguardava com um latido de timidez e surpresa.Sorriu e ao sentar no sofá sentiu uma dor forte no peito foi até a janela viu o pôr do sol,despediu-se do dia!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Conversa

O tempo de quem é?
Indagou deitada na colcha fria fitou o relógio ao lado da cama e deu seu salto matinal,rotina.Pela manhãs um salto pra despertar,um gole de chá e torradas com requeijão.Banho rápido,uniforme,bolsa,celulares e antes de sair deveria fazer uma ligação pra mãe,aniversário batia-lhe a porta.Uma senhora de cinquenta anos acordou em sua casa neste momento e espera o telefonema de uma moça hoje com 23 anos que vez por outra era chamada de filha.
Tudo isso pensou ela sem ter certeza se por algum segundo fosse real pegou o telefone e discou a cada segundo de chamada um aperto maior no peito,a mãe atendeu:Olá mãe vou jantar hoje as 20:00 horas com a senhora.
-Claro te espero querida.
A conversa terminou apenas um silêncio e o soluçar de um choro profundo vindo dos dois lados da linha seguido por um click denotando que alguém desligou, fora a moça da história.
Elas eram antagonicas e fiéis aos sentimentos.
Nunca conversavam sobre namorados,parentes ascendentes,o trivial era-lhes necessário mãe e filha e só,filha e mãe e só,só filha e mãe.
Havia completado 23 anos fazia três semanas e a mãe que estava em Paris nesta ocasião deixou um buquê lindo pra filha reservado há meses na melhor floricultura da cidade,a jovem abraçou o buque tão grata que não sentiu falta da mãe.
As flores cálidas irradiou o médio apartamento da recém dentista.Hora de retribuir o presente,claramente sabia que seria impossível fazer a mãe sentir aquela alegria que houve em seu peito quando abraçou as flores tão bem dispostas naquele buquê.
As 20:00 horas depois de se apresentar ao porteiro do prédio da mãe que mal reconhecera a visitante distinta subiu ao apartamento da mãe e ofereceu-lhe bombons finos logo que a porta foi aberta pela anfitriã.
Jantaram em silêncio a mãe preparou um peixe com ervas finas para jovem dentista que era vegetariana e se ateve há uma pequena porção da iguaria,o trivial fugiu da sala de jantar.Silêncio!
Meia hora depois e um vinho aberto.Uma senhora de olhos azuis se despede de uma jovem japonesa de olhos molhados.Mãe e filha e só,filha e mãe e só,só mãe e filha.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Lúcia

Coçando a língua pra contar a traição da esposa tão elogiada pelo marido besta.Preferi o silêncio "quem não deve não teme" sentencia o ditado popular.Mas vejo que nada tenho pra dizer sobre um caso que a empresa toda comenta e só o besta em questão permanece alheio.
Mulher gostosa com todos predicados sem lhe faltar nada;bom humor,beleza morena,cabelos cacheados escuros como a noite e sensualidade a flor da pele.Diria sexualidade.
Piadas prontas com conotação sexual feita de forma natural a enganar quem quer que fosse.
Ligo pouco ou quase nada para fofocas em geral todo aquele que já foi alvo deste círculo vicioso têm receio de entrar novamente nesta roda morta de pessoas semi-vivas.Mas ouve-me peço-vos veja minha inculpabilidade.
Precisando de dinheiro pra cobrir a creche das crianças(um absurdo o que cobram para cuidar de bebês,serão eles tão maus assim?) horas extras me ajudariam por certo,as fiz durante um bom tempo e na última semana disposto a voltar ao meu turno normal.Peguei o horário ingrato da madrugada.
"Siderúrgicos não dormem" já dizia um certo alguém; ouvi vozes abafadas entre o banheiro e a sala do gerente operacional, lancinantes gritos de prazer confusos: "Para,não para,me agarra"
Urros, gemidos de mulher perdida em deleite, orgia numa Siderúrgica de São Paulo.A curiosidade me fez ficar até o final da sessão pornô gratuita,me escondi atrás de um armário e a surpresa foi que a Santa Esposa de Marco Antônio travou uma sessão louca de sexo com o porteiro e o faxineiro(explicado os urros) verdade seja dita a mulher tem folêgo.
Porteiro e faxineiro conhecidos por todos como Irmãos Tripé (entendido o pedido pra que parassem) os Irmãos Tripé sairam com ar satisfeito, a esposa de Marco Antônio arrumou a saia vermelha e com um rosto de quem esperava mais foi pra garagem.
No dia seguinte foi combinado na empresa que o próximo final de semana seria comemorado o"Dia da Família no Trabalho" a família dos funcionários estavam convidadas(quase intimadas) a frequentar o ambiente onde seus conjuguês apontavam ser seu maior fator de enfermidade.
Falta de paciência com os filhos,impotência,frigidez,horas extras não declaradas no holeriti,estresse,descompromisso com a religião tudo por conta do trabalho e agora num ato de humildade desproporcional as famílias se ajuntam pra ir neste centro de desintegração social ,cada uma fingindo uma felicidade distante.
Marco Antônio se anima e diz:Minha felicidade é ter Lúcia sempre de bom humor.
-Vocês nunca pensaram em se separar?Perguntei informal
-Não,NÃO.Se não a tivesse encontrado estaria por aí a procura-la.
-Quanto tempo estão juntos?
-13 anos de casamento, 3 anos de namoro.Acho bacana esses 16 anos de conhecimento diário.Sempre algo pra aprender uma nova faceta a ser vista.
-Traição nunca te preocupou?
-Claro que sim nunca pensei em trai-la.
-Huuum.
O celular tocou Marco Antônio atendeu afoito e com alegria estonteante no rosto , disse:
-Esta convidado pra jantar hoje em minha casa,pena que tenho hora extra.Mas não desanime Lúcia por mim,pode me fazer esse favor?

Célia e Eu

Célia mulher quase simpática trintona detonada pela raiva,o tempo só lhe fez bem,funcionária pública espremida numa minúscula sala, infeliz por trabalhar na àrea da educação procurava entender oque passaria na cabeça do patrono daquela escola se vivo fosse.
Foi numa dessas tardes de Maio onde quase nada acontece que pela porta da secretaria entra uma senhora alta loira aos berros querendo conversar com a diretora da escola.A mulher de olhos verdes e voz aguda-estridente balança os cabelos de um lado para outro demonstrando belos cachos tratados em salão.O ódio tomou conta ,fazia muito tempo que não sabia o que era um salão só pra ela.
Ao dizer que a diretora não estava a velha loira de cabelos bem tratados lança um olhar de insatisfação e vai até seu carro e traz com insistência um rapaz pela mão:
-Meu filho foi insultado nessa escola por ser homossexual.Onde esta a direção?
Célia olhou para o rapaz procurando pontos efeminados em sua atitude pra sua surpresa o rapaz disse com voz médio-grave:
-Não sou homossexual tenho amigos nesta escola que são,garotas e rapazes.E acredito que devemos ter uma ação contra preconceitos seja racial,étnico,religioso ou de prática sexual.
A mãe olhou para o rapaz absorta.Célia tentou ir em socorro aquela conversa estranha não pelo discurso talvez sincero do rapaz e sim pela falta de sintonia entre mãe e filho.Coisas da atualidade.
Célia paulatinamente com diplomacia incomum disse:A escola só tem a ganhar com atitude de pessoas como seu filho.E vou comunicar essa nossa conversa a direção.Houve agressão física contra você ou contra seus colegas?
-Não.respondeu o rapaz lacônico.
Seu nome sua série e idade por favor? emendou Célia ao rapaz
Animou-se ao ver que o rapaz tinha 19 anos.Aliciamento de menores descartado.
Espantou essa idéia mas não conseguiu deixar de prestar atenção no rapaz de olhos escuros, pele clara, cabelos escuros, voz marcante, lábios grossos médios, charme ao escrever.
A mãe do rapaz quebrou o silêncio com uma frase aguada:Aguardo,melhorias nesta instituição.
Sairam mãe e filho como Júpiter e Saturno dissociados totalmente,visão triste.
Fim de tarde mais de 30 relatórios enviados e mais de 100 recebidos,cobranças do governo,reclamações de professores,irritabilidade da diretora,com esta descobriu que a mãe do rapaz a mal-educada senhora loira foi professora hoje aposentada; explicado seu ódio pelo ensino podre brasileiro.Só os aposentados sabem.
Com sua bolsa de couro no ombro e chave do carro na mão dirigi-se para a garagem da escola,pensando num jantar rápido em casa e algum filme interessante pra assistir em casa fazia um tempo que comprara alguns filmes que continuavam inéditos,os livros tinham tomado seu tempo.
Nélida Pinõn,Adéia Prado,Lygia Fagundes Telles e Marina Colassanti não largavam de seu pé,melhor dizendo os olhos dela não conseguia desgrudar da obra destas mulheres-divas.
Quando chegou próxima ao carro uma voz grave veio-lhe ao encontro,não se assustou.
-Vim me desculpar pelo modo ríspido da minha mãe.Eu acredito que não precisava de nada disso,ainda mais que não teve agressão.
Sua mãe só quis protege-lo.Isso é normal.Afavelmente respondeu
­-Obrigado.
-Moro na avenida Monsenhor Auschberg quer carona?Procurou um tom de pouca proximidade.
-Estou indo assitir um jogo de futebol.
-Mas não esta com roupa adequada.
-Vou assistir apenas,quer vir comigo?
Célia levou segundos pra responder positivamente os filmes inéditos poderiam esperar um pouco mais.
Não entedeu muita coisa de futebol a não ser quando os gols eram feitos.Mas a emoção de ter um tempo pra gritar,espernear sem ter que explicar o por quê,fez tê-la algo bem próximo a orgasmos.
Ficou ali sentada esperando o rapaz voltar dos seus cumprimentos aos seus amigos que perderam o jogo mas continuavam animados pra próxima partida.
-Quer carona?perguntou sorridente
-Acho que estou perto de casa,obrigado.
-Muito agradecimento pra um dia,não acha?
-Desculpa sou assim.
-Desculpo se me convidar mais vezes pra vir aqui.
-Combinado.
Foram embora.
Célia ao chegar em casa cantou juntamente com Elis Regina e as duas bem alto entoavam:São as àguas de Março enfeitando o verão...
Pela manhã ainda impactada pela noite anterior chegou sorrindo ao trabalho e cantarolou.Quando já entediada pelo trabalho que neste dia estava pesado tudo corroborando para um pedido de demissão,ele entrou pela porta de vidro que ela nunca tinha achado bonita,mas que naquele momento se tornou uma das portas de vidro mais bonitas da cidade.
-Vim perguntar sobre o trabalho voluntário na escola.
-Só começa a inscrição em Abril,esta no aviso nas salas de aula.
-Ah,não prestei atenção.A investigou calmamente dando tempo pra ela perceber que ele a queria.
-Hoje não tem jogo de futebol?Sem graça ela perguntou.
-Não mas eu vou precisar de carona.Percebeu que foi direto demais
-Eu vou fazer um trabalho na biblioteca e vou sair no teu horário pode me dar carona?
-Claro.Ainda sem graça esboçou um sorriso.
-Nos vemos mais tarde então.Saiu convencido de ter feito um gol de placa.
Célia saiu no horário do almoço coisa que esporadicamente fazia e foi até sua casa colocou tudo em ordem com coração palpitante e a cabeça dando voltas:Pode ser apenas coisas da minha imaginação.
Mas continuou,a casa estava toda em ordem.Voltou ao trabalho.
Mal podia esperar pra que o fim de tarde chegasse.Chegando enfim, lá estava ele próximo ao carro.Carona perfeita.
Quando ela foi se aproximando da avenida da casa dele.Ele avisou que ficaria na casa de um amigo próximo a casa dela.O coração de ambos formavam uma escola de samba.
Ao parar o carro em frente a casa do amigo dele que era filho de amigos dela,um beijo roubado elo de uma tarde perfeita,não se sabe identificar quem foi o primeiro a beijar,impulso não registrou a hora exata.
Casa dela a duas quadras dali no entanto o carro instrumento pra dois inveterados.
Juventude pra ela,aula de biologia pra ele.
Célia não mais nega carona a jovens acima dos 18 anos,ele não cessa de apresentar futebol a mulheres solteiras.

Vanessa,Fábio e Bia

Nós tratavamos como bons amigos,distorção de amor velado.
Eu um pobre amigo, Vanessa deusa alada,disse isso ao analista coragem falta pra declarar a ela.
Dias desses apareceu com um rapaz de mãos dadas,soco na boca de estômago pela primeira vez senti.Veio apresenta-lo a mim.Perguntas em minha cabeça.
Rapaz mediano,branco,classe média percebi.Vanessa linda negra mais uma vez não entendi.
Já tentaram me dizer que sou racista de fato não sou lembro até de um funk carioca que repete mil vezes a frase"cada um no seu quadrado".Nisso creio e nada mais.
Estou ao lado dela nos dias de sol e chuva, somos iguais como irmãos siameses e vem este rapaz, brotou de onde?
Disse Vanessa:Meu melhor amigo.Apresentou-me assim,chinfrin.
Aceitar essa apresentação de Vanesa é como abraçar um câncer e chamá-lo de irmão.
Peço explicações
Nada compreende e com paciência de fada se põe a explicar.
Numa festa aquela única que não fui com ela,com detalhes me colocou a parte da conquista por ele iniciada.
Vanessa bebia cerveja e ele conhaque olharam-se e ele pediu pra dançar.Simples como um conto de escritor amador completam 3 meses de namoro hoje,tudo isso regado a risadas.Não consegui achar graça mas fingi ser educado,se pudesse...Pularia naquele pescoço magrelo e esmagaria com meus golpes de jiu-jitsu,dois meses de aulas pra alguma coisa serviria.
Vanessa saiu a pegar gelo pra vizinha intrometida.
Nós dois apenas
Seu nome? Fernando
Trabalho?gerente de farmácia
Religião?umbandista
Não bebe,não fuma,vegetariano,ecumênico um bom partido pra qualquer uma garota .
Tinha que encontrar um problema que fosse.Alertar Vanessa minha meta.Salva-la quem sabe alguma
Recompensa,melhor parte desse devaneio.
Achei afinal,o cara é divorciado e tem um filho de 9 anos.Pôxa alguém assim demonstra instabilidade, deve ser um homem grosso,mal educado,ciumento.
Ao içar essa minha cartada de mestre contra Fábio meu inimigo mortal.Vanessa contente informou-me como um anúncio publicitário do governo que conhecera a ex esposa dele e que já fizeram um programa a três.Ela a atual,a ex e o politicamente correto Fabio.
Como assim?Nenhum rancor?,Mágoa que seja,nada?
Perdi Vanessa,em três meses casou-se com seu princípe norueguês.
Faltei ao casamento inventei uma viagem de trabalho mandei um belo presente.
Passeando pelo parque vi um menino jogando futebol sozinho sua mãe atenta sentada um pouco a frente tentava entrar no mundo lúdico do pequeno astro.Convidei-o pra uma partida sua mãe foi a juíza.
Passamos a namorar,juiza ladra e eu.Bia seu nome.
Instabilidade no mundo perfeito de marfim se deu quando numa repentina visita Bia e eu fomos deixar o menino um final de semana com seu pai;o pacifista norueguês ecumênico não demonstrou abalo,Vanessa num sorriso pardo afastou-se.

Motown

A pior parte da vida é fingir sentimentos.
Jurar amor eterno diante de um clérigo solteiro e dezenas de convidados em sua maioria divorciados ou prestes ao ato; capricho dela, falta de oposição minha.Afirmo que as coisas iniciaram-se de forma desastrosa éramos ótimos na cama o problema era quando estavamos de pé.
Cobranças internas e externas,casamento é caro,amigo!
Foi-se o tempo em que os pais da noiva arcavam com metade de festa;orçamento feito parcelas a serem cumpridas se a recompensa fosse satisfatória não reclamaria.
Almoço de domingo entre parentes,missa pela manhã,futebol com cunhado gay,conversa de trabalho com o sogro na melhor das hipóteses antipático.Nomes impróprios retirei de meu vocabulário missa de domingo me levou a isso.
Troquei telefone com a nova secretária do escritório fortuitamente sem relação alguma de interesse tanto meu quanto dela,por continuar com este telefone no bolso por conta do acaso ao chegar em casa depois de um bom banho frio(porra de instalação)sou interrogado pela investigadora Shirley César Dutra Bishop ainda leva meu sobrenome,desgraça.
30 minutos de encenação de ciúmes,encenação sim,sabemos que entramos nesse casamento pra perder
por conta da idade,por tempo de namoro(enrolação diria alguns) seja pelo que fosse,e muito menos pelo que é, ambos sabemos nosso casamento realizou-se pra oficiliazar nossa separação.
É isso,e sem aquelas caras de espanto por favor.
Shirley e eu estamos prontos pra isso e se ainda não estamos nos fortalecemos para um dia estarmos.
Não devemos nada a ninguém,que não nos ouça os donos do Buffet e Salão de Festas.
Embarcamos a dois sem direito a clandestinos.Completamos seis meses de casamento sem receber uma visita sequer;parentes,amigos ou vizinhos... nada.
Acham que ainda estamos em lua de mel.Nossa lua de mel aconteceu do segundo encontro em diante.
O primeiro encontro foi como a maioria,sem sal e sem açúcar.Ei-lo aí:
-Você curte ouvir o quê?
-Black music
-Pô manero, que surpresa.
-Por quê?
-Você toda loirinha assim,imaginei uma coisa mais dance.
-É...prefiro a denúncia sofrida de Billie Holliday e a alegria gritante de Tina Turner.
Fora a minha primeira paixão.
No segundo encontro transamos ao som de Stevie Wonder no meu quarto diante da minha coleção de vinil da Motown,Michael Jackson estava lá espionando.
No dia secreto de nosso divórcio público vou colocar pra tocar Marvin Gaye bem alto,prefiro assim com Motown presente no começo e no fim.

Reunião

Comecei uma briga daquelas,é válido meu pedido.Meu contrato previa um aumento de 30% sobre meu salário assim que eu conseguisse um aumento de 50% nos anunciantes,este homem que vos escreve conseguiu um aumento de 80% em merchandising para a nobre revista um tanto quanto desconhecida Conquistas S/A.
Antes do aumento dado fiz minhas previsões de compras, trocar meu carro 1.0 por um 1.8,finançar meu terno Dolce Gabanna em 6 vezes com juros,e finalmente aquele sapato de cromo alemão que não será meu, mas terei o prazer de flertar com ele durante horas na vitrine enquanto peço meu terno.Já disse que é Dolce Gabbana?
Devo apresentar-lhes...Charlote
Concordo que essa mania brasileira de imitar nomes estrangeiros é péssima mas a beleza dessa garota coloca qualquer feiúra nacional como banalidade a ser esquecida.Moramos no mesmo prédio.Um prazer acordar as 5:30 da manhã com ela sapateando com seus saltos altos antes do trabalho,verdadeira bailarina russa.Certeza me falta se bailarinas russas se dedicam ao sapateado.
Acordaria as 8:00 pra me preparar pra ir ao escritório mas o barulho de Charlotte me faz ir pra esteira caminhar durante uma hora e meia,antigamente eu me preparava rapidamente e pegava elevador no mesmo horário que ela.
-Gosto muito do croassaint da padaria aqui de frente.
Começava assim a conversa sempre, até a padaria ser fechada pela Vigilância Sanitária tive que sair pela tangente e me familiarizar com a idéia de acordarmos juntamente e nos despedirmos de longe.
Passamos a nos encontrar no hall de festas do prédio sempre nas reuniões de condomínio.
Com um Dolce Gabbana dificilmente não serei notado por Charlotte depois um barzinho e então um pedido pra passar a noite no meu apartamento e em meu pensamento sutil,ela prontamente aceitaria.
Final de noite feliz.
Tudo isso seria real se meu chefe concordasse em fazer o correto de me dar o aumento.
Cheguei em sua sala com um rosto sério e voz leve.
-Senhor Carlos neste gráfico esta claro o substancial Au-men-to que consegui trazer para nossa revista.
-Estamos realmente felizes pelo seu bom empenho meu jovem.
-Obrigado.Esperei algo a mais porém ele apenas observava.
-Senhor Carlos sinto-me honrado por poder ajudar nossa nobre revista,meu contrato prevê um aumento de 30% ao atingir um aumento de 50 % nos anunciantes.Com todo respeito senhor consegui 80% de acréscimo nos anunciantes e não penso em adicionais porém venho falar i sobre meu Aumento.
-Rapaz eu entendo teu empenho e posso te dar uma comissão pelo teu bom trabalho.Espero que entenda que somos uma revista nova e com pouca visiblidade no mercado blá,blá,blá,blá.
-Se você tiver alguma proposta de concorrentes posso tentar cobri-la.
Facada final.
Sr. Carlos sabia que era um apelo desesperado de jornalista a beira de um ataque de nervos sem proposta prévia ou tardia de concorrente algum.Agradeci por ter me recebido e sai.
Tudo que sonhei com Charlotte nos planos imaginários foram concretizados e isso apenas com um pedido feito na portaria,sem Dolce Gabbana,sem trocar de carro e nada de sapato de cromo alemão.Charlotte é tão desapegada as coisas materias que minha preocupação em conquistá-la fora absurda,uma verdadeira hippie do século 21.
Fora uma noite sensacional,transa espetacular e na manhã seguinte ao voltar ao apartamento me deparo com Rita,filha da síndica mórmon.Conversas esporádicas e sorrisos rarefeitos me fizeram pensar:
-Um terno Dolce Gabbana e a troca de meu 1.0 por 1.8 me faria ter uma chance maior com Rita.
Novamente um rosto sério e voz leve adentrou a sala do Sr. Carlos.