-É na solidão que se escolhe os amores?
Indagada pôs-se a velejar iria de Santos a Paraty num pequeno veleiro que comprara a dois verões passados e que só agora em 25 de abril decidira inaugurar,saiu revolta.
O coração dentro de si fazia um carnaval nada feliz apenas barulhos intensos,altos.E a pele a trêmular no impulso veloz;voltaria atrás se fosse este o resultado de um esforço,não o era até aquele instante.
Pensou em Márcio naquele dia bonito de vento favorável.
Conhecera o rapaz numa livraria enquanto folheava uma biografia de Clarice Lispector,ele se aproximou e pontuou o rumo da conversa.
-É uma das minhas escritoras favoritas,ao lado de Agatha Christtie e Marina Colassanti.
-Gosto de seu humor ferino e inteligência sagaz.Respondeu prontamente ela.
-Estas a falar da Lispector,creio eu.Sorriu num branquear de dentes gentis
-És tu de forma inesperada e corriqueira afável,mas refiro-me a Clarice,sim.Retribuiu o sorriso.
-Café ou chá?
-Café.
Foram à cafeteria da livraria e deixaram o silêncio bater-lhes ao rosto.Ela começou enfim...
-Frequento à um tempo esta livraria primeira vez que te vejo aqui.
-Fico reservado na área administrativa.
-Proprietário?
-Sócio.Eu e meu irmão deixamos o ramo familiar de imóveis e demos asas ao nosso sonho artístico.Meu irmão tem mais talento além de nossas livrarias ele faz teatro,eu me confino aqui e por vezes escrevo.
-Estar confinado em uma livraria tão bem amparada de mestres em suas estantes,como esta,deve ser algo interessante.
-Os livros podem ser frios a noite.
-Eu preciso ir.Levantou-se ela num rompante.
-Espero reve-la teremos uma noite autógrafos com Fabrício Carpinejar o escritor e poeta, na noite de quinta feira és minha convidada ilustre.
-Nem sabes meu nome.
-Teu rosto não esquecerei,estarei aqui a te esperar na quinta feira.
Sairam.Ela pela porta de vidro a fora,ele para sala administrativa.
Quinta feira de inverno um escritor e poeta fala sobre sua vida e arte,um homem e uma mulher que mal se conhecem estão de mãos dadas sem pensar no universo.
-Agradeço por ter vindo.
-Agradeço pelo convite.
Fim de autógrafos e coquetel,prometeu levá-la em casa sobre protestos da mesma,conseguiu no entanto faze-la aceitar a carona.
-No momento em que te vi soube que de ti precisava.
Pasma com o súbito desabafo,suspirou...
-Uma declaração de amor tendo em vista que nos conhecemos a dois dias.Tom de voz repreensivo.
-O tédio me fez pular da zona de conforto e confronto meus medos pra dizer que estou apaixonado.
-Eu aceito.
-Obrigado.
Dormiram abraçados e contentes encaixaram-se perfeitamente sem grunhidos ou gritos de histeria somente a satisfação de gemidos que se completam.Na manhã seguinte mel,torradas e suco de uva.Trocaram telefones pessoais e comerciais assim como e-mails,beijo longo antes do adeus,até breve ou tchau.
Era uma despedida.
Na mesma manhã Heliodora caminhou ao cais,não mais voltou.
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