terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Clarice

Contou mais uma desilusão entre tantas no caminho.
Clarice.
Meiga moça ruiva a olhar pela janela num domingo de sol pós culto presbiteriano diurno.
Nunca havia sentido algo tão forte quanto o que sentiu pelo alto pastor luterano.
Clarice havia vivido seus desencontros amorosos juvenis,contava apenas com 20 anos quando foi surpreendida com a imagem de um alto homem branco,olhos verdes,voz firme,braços fortes sorriso de galã.Era o novo pastor da mais recente igreja luterana da cidade.
Em uma festa de boas vindas entre as igrejas históricas da cidade deu-se uma troca de olhares perceptível a todos porém eram jovens,não haveria mal algum mesmo este pastor sendo casado,"coisas da idade" disseram os pretensos protestantes.
Havia no olhar da esposa deste que denunciava uma certa complacência,não fazia o estilo de mulher ferida pela possível traição.
O segundo encontro em um supermercado ocorreu de forma natural e simples entre uma prateleira de azeitonas e outra de palmito.
"Não me satisfaz palmitos" disse o pastor.
"Depende da forma como se introduz ele pode ser bem saboreado"respondeu ela.
"Conheces de cozinha?"indagou ele
"Um pouco menos do que da vida"replicou a ruiva.
Com um sorriso bem pouco galante caminhou ele para o caixa.Dando ali um sorriso aberto e conquistador para a operadora.
Terceiro encontro foi na Igreja,Igreja Luterana da Salvação.
O pastor defendia a idéia de que a sociedade esta pronta para atacar aquilo que na verdade reconhece dentro de si ou entre quatro paredes o que é abominável ou frágil,nenhuma figura poderia melhor ser retratada nesta pregação do que Maria Madalena alvo da intempérie de um povo.
O olhar fulminante do pastor veio em sua direção quando disse do arrependimento de Maria Madalena que a certa altura do Evangelho chega a enxugar os pés de Jesus com os cabelos.
"Quereria ele dela algo comparável ao que a personagem bíblica?Devoção extremada?Silêncio ao invés de inteligência colocada em palavras?Seria um convite?" dúvidas apenas isto carregou do culto.
Ligou para o pastor na manhã de sábado e disse que iria a livraria e precisava de uma boa dica de livro,o pastor disse que precisava conhecer algumas livrarias da cidade e se propôs a ir com ela.
De bermuda jeans,pólo verde escuro,sandália de couro marrom o pastor parecia um turista canadense na pequena cidade de Guaratinguetá,com as bochechas vermelhas pelo sol que tomara reluziu ainda mais a beleza européia do jovem pastor sulista.
Procuraram pelos livros de Moacyr Scliar,Milton Hatoum,Lygia Bojunga acabaram ao mesmo tempo com olhos no livro de uma escritora recente por título Sexo entre Religosos e Afins,Laura Cardoso Ximenes psiquiatra judia que abordava a questão sexual dentro de várias religiões,os dois se aventuraram na compra.
No estacionamento da livraria trocaram emails.
Durante a noite conversaram longamente até que uma frase por fim deu o tom de toda uma conversa:"Preciso te ver amanhã".
Marcado o encontro na Biblioteca da Cidade,entre Machado de Assis e Lyia Fagundes Telles se deu o orgasmo menos literal já um dia descrito.O pastor colocou as mãos por baixo da minisaia levantou levemente sugou a pequena vagina com alguns fios ruivos enquanto a moça gemia de prazer com uma biografia de Carmem Miranda nas mãos.
Terminaram a bela tarde de sexo transando na secretaria da igreja.
Mal conseguia olhar para a esposa do pastor quando percebeu que seu pai,presbiteriano desde a infância tornou-se luterano convicto aos 54 anos e passou de um músico inveterado a leitor compulsivo com primaz constância as bibliotecas e livrarias da cidade,sempre acompanhado de Sylvia esposa do pastor e criadora do Ciclo de Leitura Luterano.
Continuou a apreciar os livros.