terça-feira, 14 de abril de 2009

Campo,Camponeses

Do outro lado da parede tem um campo de futebol meninos correm atrás da bola todas as tardes e manhãs,rapazes transam com mulheres suas na madrugada,mulheres passam com saias esvoaçantes para suas missas e cultos em punho Bíblia e terços,neste campo não passa boi e nem boiada,passam Tarcísios,Marinas e Ignácios.
Quando era pequeno e em Deus acreditava via o céu azul e um muro despontava,seguido de dragões,castelos e guerreiros formados de nuvens brancas e também escuras que desmanchavam em chuvas finas na tarde de Pombal pequena cidade a leste do arco-iris no fim da escada de mármore da mansão de Sinhá Ilusão,senhora distinta em constante alegria.Nasci assim em Pombal,me lembro de estar sentado desde sempre.
Corri pouco ou quase nada.Corri nos sonhos,ali também pedalava.Numa noite de sono em sonho subi num pé de goiabeira,atirei umas cem dentro do cesto e levei pra Benta,tia mais velha de minha mãe fez-me doce até enjoar;eu e ela comemos pouco só o cheiro abastecia.
Tia Benta depois do banho contou uma história,começava assim:"Dentro da noite escura,entre o espinheiro e a rosa clara tem um poço que cheira absinto quem ali pular vira peixe e não mais volta",acordei.Tia Benta não estava foi morar em Rio D'Agua lá pras bandas de Tiro Milho longe que só vendo,fui até a cozinha pegar bolo de aipim e café quente vi dos lados de lá do campo de futebol um negrinho sendo espancado por três homens ruins,gritavam:"Mardito nego,pego agora paga".
Nenhum furto de pêra ou maçã(isso estava na mãos do menino negro)valia a sova que levava de três homens,estirado no campo ficou o negro com seus 13 anos de vida esvaindo sangue pelo nariz e choro de quem ainda dá retorno.
O campo me traz memórias boas no tempo quando cria em Deus,o campo me fez chorar quando cadeira de rodas lembrou quem sou eu.

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