segunda-feira, 12 de julho de 2010

Rapazes

Parado em frente a porta do hotel aguardou.
Era o fim.
Ricardo olhou em volta e em sua direção vinha Rafael tamanho médio,fortes braços,cabelos pretos pele clara dentes branquissimos leve musculos nos braços.
Sorriram automaticamente.
-Acho que é o fim.Apressou-se Ricardo
-Pode não ser.Sorriso nada confiante de Rafael
-Luto pra ser indiferente,mas a tua forma sedutora para com todos me deixa enciumado.
-Deveria mudar por insuficiencia de confiança tua?
-Por isso não quero amarra-lo a nada.
-Você pra mim é tudo.
-Não faça assim,por favor.
-Assim?Assim como? Lutar para que o nosso amor sobreviva a mais uma tempestade.Tempestade formada por ti.
-Como posso?Como posso conviver com esta situação Rafael?
-Qual delas dessa vez?
-Fora esta que você esta fazendo no momento;tem o seu relacionamento com seu ex como se fossem amigos íntimos vocês voram viajar juntos.
-Trabalhamos juntos.
-Eu não posso,voce compreende?
-Não,não compreendo e ja não sei se ao menos quero compreender,entender ou escutar.Respirou e prosseguiu:
-Desde que te conheci me uniu a ti nossas diferenças.Quais?Talvez estejas a se perguntar.Respondo sem problemas.Todas.Todas diferenças.Quando de te vi naquele curso de alemão que fazíamos juntos,meu Deus,pensei comigo que não seria possivel meu sonho se materializar em frente aos meus olhos,você com este tom de pele escuro,teus lábios carnudos,esta voz que vai o grave ao agudo no mesmo segundo doce delicada e forte,tuas mãos àgeis,teu vocabulario totalmente requintado.
-Foi paixão apenas?
-Ama-se um ideal a princípio,sou humano sabia?Começou como paixão tesão seja la qual for a classificação necessaria ou desejada por ti ou pelos demais.Mas a realidade é que desde então luto por nós.Por esta união que apenas eu vejo,apenas meus olhos conseguem vê-la.Por que corres dessa maneira.
-Estas sendo maniqueísta.
-Estou expondo o que sinto a teu favor,mas juro que se fores pra continuar em algo frio e instavel concordo com o fim.
-Frio?
-Frio.
-Ora frio(Ricardo alterou a voz agora mais aguda do que de costume)então me ensina como não sentir ciumes?
-Confiando.
-A tua filosifia soa como sarcastica.
-Qual a prova que tens de alguma traição?
-Mas é isto.
-Isto o que,Ricardo?
-É isto que não quero.Não quero ter que passar por essa humilhação pelo vexame que é ter que servir de impecilho pra você e teu ex.
-Mas o meu ex existe assim como o lixeiro,o motorista de taxi,o escritor espanhol que nunca leio.Meu ex simplesmente existe,meu amor.
-Há cumplicidade entre vocês eu sinto.
-Nem todos terminam com raiva ou ódio um relacionamento.
-Eu vejo a forma como ele te deseja.
-O mundo esta cheio de pessoas que sentem algo por outras e o ser pretendido não pode levar a culpa pelo que despertou quando sua intenção primaria é ou era totalmente outra,pensar o contrario seria ilógico.
-Neste momento a razão me foge.
-Ao pensar que você pode ir embora me foge o chão por debaixo dos pés,Ricardo.Eu sinto tua falta pela manhã quando acordo ao teu lado,ou quando estou em algum almoço de negócios,e até mesmo quando quase que diariamente fico preso neste maldito transito.Eu te amo e aguardo receber o mesmo.
-Ficarei neste hotel,Rafael.
-Por quanto tempo?
-Até amanhã pela manhã as 18:00 horas pego um avião pra Buenos Aires.Estou sedento por novos ares,boleros e talvez vinho.
-Você não bebe.
-Eu sei.
Deu um passo para trás se virou em direção ao elevador,olhou pra trás apenas uma vez e viu ali um homem de terno ao chão chorando como recem nascido,não teve forças pra voltar.Ao ascensorista com voz embargada solicitou o décimo andar.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Junção

Esperou o telefone tocar.
Depois de uma hora e meia tocou.
-Alô.
-Por gentileza poderia falar com a senhora Lucia Ruiz.
-Sim é ela,quem deseja?
-Ola sou Priscila do Cartão...
E la se foi quarenta minutos da explicação desnecessaria de um cartão que não utilizaria,mas por educação aquela moça que talvez se chama Priscila e que estava sendo obrigada a cumprir uma meta louca de uma empresa que pede a ela ligar para um possivel cliente as 21:00 de uma sexta feira.
-Ah obrigada Raquel.É Raquel teu nome né?
-Não senhora,Lucia, é Priscila do Cartão RevisVinda que possui varios itens de comodidade para seus clientes e afins,diz a simpatica garota pronta a repetir por mais quarenta minutos tudo que ja havia sido dito,ansiosa pra cumprir sua meta.
-Agradeço Patricia pela ligação mas no momento utilizo outro cartão mas revisarei as vantagens do teu e entro em contato.
-Podemos entrar em contato com a senhora amanhã.Persistiu a moça.
-Obrigada querida sábado não é dia de negócios somos religiosos.
-Segunda feira seria um bom dia senhora?
-Prefiro aguardar mais um pouco,tudo bem? Ja com certa impaciência.
-Temos ofertas para cliente que fazem portabilidade posso lhe passar o nosso modelo a senhora gostaria?
-Não.
-Ficou alguma duvida senhora?
-Não.
-Deseja que entremos em contato.
-Não.
-Podemos cadastrar o numero do teu celular?
-Não.
-Deseja receber nossos informativos via e-mail?
-Não.
-Boa noite,senhora.A moça guardava na voz certa doçura.
-Boa noite,Roberta.
Mal colocou o telefone no gancho e ele fez seu som habitual.
-Alô.
-Oi,sou eu
-Esperava que fosse.Usou um tom rude
-Podíamos conversar melhor amanhã em algum restaurante.
-Não acredito Marcelo que seja possivel.
-Nestes 5 anos juntos,Lucia é raro uma fase tuaque não comece com a palavra:Não
-Então a avaliação de nosso relacionamento saltou de e-mail pra telefone.Sabe como me senti ao receber teu e-mail?
-Você sempre foi tão antenada.Rusga na voz
-E romantismo nunca foi teu forte.
Suspiros.
-O que faremos?
-Detesto teu tom grave Marcelo
-Nesse momento não consigo usar falsete.Procurou dar uma risada
-Como cantor lírico você é mais que eficiente,mas humorista?Humor não combina contigo.
-Vindo de uma executiva praticamente alemã isso seria elogio.
-Havia fogo entre nós,não gelo.
-Havia tudo Lucia menos amor.
-Você confunde amor com paixão.Cinco anos Marcelo e você esperava que eu me comportasse como uma garotinhade 15 anos esperando o namorado mais velho na porta do colégio.Você espera de mim a juventude que ja não temos.
-Nunca fiz menção ao tempo.
-Você nunca teve coragem de colocar em palavras o que em teus atos e pensamentos ja permeavam.
-Então você lê mentes? Se soubesse disso antes teriamos montado um circo e ganhado certo dinheiro.
-Dinheiro nunca foi o nosso ponto fraco.
-Mas também não foi nosso ponto forte.
-Você artista Marcelo.
-Era pra você algo lindo precisamente ha seis anos atras.
-Cinco.
-Lucia moramos a cerca de cinco anos juntos,mas entre o namoro na sala de estar da casa dos teus pais até hoje são seisanos de convivencia.
-Desculpe me esqueci.
-Não foi apenas isso que esquecestes.
-Chega de acusações.
-Constatações.
-Constatações?Então cabe aí todas as noites de sábado que aguardei você terminar alguma apresentação para enfim dormirmos juntos?
-Qualquer esposa de caminhoneiro conseguepassar por isto sem mal algum.
-Você faz esforço pra não me entender.
-Eu quero retorno.
-Retorno?
-Eu te desejo Lucia.
-A executiva gelada alemã?
-Não sei,se esta estiver presente no momento de nossa transa talvez não.
Sorrisos,de ambas as partes.
-Eu preciso do teu canto.
-Eu dos teu numeros.
-Recomeço?
-Retire o bilhete meu rapaz.
A porta do apartamento destranca-se ceular ao chão,telefone fora do gancho.Sorrisos arfantes,sons abafados,arrastar de móveis,línguas e afagos.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Família,Fabricio

-Como se ela pudesse entender.
Fabricio deixou em cima da mesa o papel e caneta que pegara pra deixar o bilhete agora não escrito,não deixaria uma só linha do seu desaparecimento.
Ao completar 19 anos achou-se capaz de cuidar de si e longe de casa pretendeu ficar.
Saiu da cidade de São José dos Campos pela madrugada do dia 06 de maio aventurando-se ir para Campinas 5 horas de estrada e la estaria.Cidade que conhecera apenas por nome e se identificara tão logo ao descer na rodoviaria;a conretização do alívio se deu quando o vento tocou seu braço de leve.
Com o pouco dinheiro que tinha instalou-se em uma pensão barata próxima a rodoviaria e por ali ficou,logo começou a trabalhar como caixa de um supermercado em um bairro longe dali uma hora e meia de ônibus até chegar ao trabalho.
Escolheu estudar e viu uma faculdade com preços módicos com sistema a distância matriculou-se em Ciencias Sociais, fascinado ficava pela discussão,pelo embate/debate de temas relevantes ao macro conjunto denominado sociedade.
Achou-se uma partícula no meio de um bolo gigantesco chamado Terra e isso o fazia delirar,anarquico,resoluto, resumido em si, contente estava.Em um dia de Julho a sua espera em frente a porta de seu pequeno quarto de pensão estava uma senhora cabelos pretos presos, calça de brim preta,pequena jaqueta jeans e blusa amarela;olharam-se de forma cumplices.
-Por que foi embora sem se despedir?
-Não havia razão pra palavras,mãe.
-Teu pai perguntou de você hoje pela manhã.Foi aí que percebi que ja era hora de sua volta.
-Já era sabido?
-Você sempre deu indícios que não ficaria conosco.Desde pequeno,você ja era dono do mundo.
-Meu mundo.
-Sim teu mundo,filho.
-Sou tão previsível assim?Como me achou?
-Não seria previsibilidade e sim pistas.Por mais de tres meses você pesquisou sobre essa cidade,lia tudo a respeito dela,acho que cada palmo de chão voce conhece melhor que qualquer um que aqui nasceu,vive ou viveu.Então peguei um ônibus pra cá desci na rodoviaria expus tua foto e em menos de duas horas consegui achar teu lugar.
-Meu esconderijo?
-Teu lugar meu filho,homens como você não se escondem apenas procuram a própria aldeia.
-Eu me sinto tão do mundo mãe,quando estou aqui.
-Você é daqui meu filho,teu coração aqui pousou.
-Me arrependo de ter deixado a senhora.
-E teu pai,não?
-Me lembro dele quando vou dormir.
-Tão iguais vocês dois.
-Quer uma xícara de café,vamos entrar.
-Não filho vou pra rodoviaria passagem marcada pra logo mais.
-Eu te vi e isso importa.
-Eu te amo,mãe.
-Eu sempre soube,me dê um dos teus livros levarei ao teu pai como recordação.A dona da pensão me disse que nunca viu rapaz tão bem educado como vc,que trabalha,estuda vai a igreja,tão resignado.Ela me olhou como dando aprovação a minha criação.Mal sabe ela que você é assim desde pequeno e que mal pude lhe influenciar.Nada tens do meu ateísmo ou meu habito de fumante esporadica,mal sabe ela que desnecessarias foram as vezes que lhe contei historias de Lobo Mau ou alguma canção de ninar.Viestes tão pronto filho meu,nascestes tão teu.Te reconheço meu nestes teus olhos sim nisto somos iguais,inegavel.E o temperamento libertário é de teu pai,solto no mundo,absorto em teus ideais.Te deixo livre meu filho por que sei que contigo levas nosso coração.
Abraçaram-se e la de seu quarto Fabricio viu uma jovem senhora de calça preta jaqueta jeans e blusa amarela sorrir pra si e enviar um beijo aos céus antes de pegar seu ônibus azul .

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Leonel

Ele seria feliz no final do dia.
27 anos ajudante de cozinha em um famoso restaurante conhecido apenas no litoral norte quando o sol decidia raiar.
Tudo em sua volta parecia estar risonho para os demais.
Canções evangelicas no rádio,pistom ouvindo-se na escola de musica gratuita da prefeitua a tres metros,a vizinha bisbilhoteira com seus olhos arregalados e sua língua rapida e àspera a desdenhar da jovem universitaria que estava tendo um caso com o padre da cidade(isso diziam todos),o padre que na sua bela idade de 33 anos não dava a menor atenção aos boatos e continuava a malhar todas as manhas com seu belo corpo de homem solteiro a procura de olhares obsequiosos.
Leonel via a vida passar.
Sentava-se em frente ao computador e escrevia em seu blog algumas poesias sonhava que algum dia uma editora visse a favor do acaso seu blog entre tantos e o contratasse,as quartas feiras participava do culto metodista e no sábado ensaiava junto ao coral.
Seu coração sempre vazio preenchido apenas pela esperança de um dia se tornar escritor famoso,não aquela fama fácil e ardilosa de Paulo Coelho ou Dan Brown queria ele ter o reconhecimento que Carlos Nejar e Ferreira Gullar despertam.
Numa manhã de domingo chuvosa ao ouvir o pastor pregar sobre esperança Leonel foi até uma lan house próximo a igreja e escreveu pela primeira vez um conto.O poeta havia se tornado contista.
Saiu tão contente a assobiar uma música religiosa:"mas é preciso que o fruto se parta e se reparta na mesa do amor,mas é preciso que o fruto se parta e se reparta na mesa do amor",ao atravessar a rua em meio a poças d'agua e vento forte não observou o carro que em sua direção vinha.
Leonel ao chão,sangue espalhado no casaco de couro, as luzes do carro para ele seria o coral celestial a recebe-lo no céu.Dormiu!
Na segunda feira pela manhã em seu funeral nenhuma canção se ouviu.Leonel levou consigo a beleza das letras e a paixão das canções