quarta-feira, 11 de março de 2009

Heliodora

-É na solidão que se escolhe os amores?
Indagada pôs-se a velejar iria de Santos a Paraty num pequeno veleiro que comprara a dois verões passados e que só agora em 25 de abril decidira inaugurar,saiu revolta.
O coração dentro de si fazia um carnaval nada feliz apenas barulhos intensos,altos.E a pele a trêmular no impulso veloz;voltaria atrás se fosse este o resultado de um esforço,não o era até aquele instante.
Pensou em Márcio naquele dia bonito de vento favorável.
Conhecera o rapaz numa livraria enquanto folheava uma biografia de Clarice Lispector,ele se aproximou e pontuou o rumo da conversa.
-É uma das minhas escritoras favoritas,ao lado de Agatha Christtie e Marina Colassanti.
-Gosto de seu humor ferino e inteligência sagaz.Respondeu prontamente ela.
-Estas a falar da Lispector,creio eu.Sorriu num branquear de dentes gentis
-És tu de forma inesperada e corriqueira afável,mas refiro-me a Clarice,sim.Retribuiu o sorriso.
-Café ou chá?
-Café.
Foram à cafeteria da livraria e deixaram o silêncio bater-lhes ao rosto.Ela começou enfim...
-Frequento à um tempo esta livraria primeira vez que te vejo aqui.
-Fico reservado na área administrativa.
-Proprietário?
-Sócio.Eu e meu irmão deixamos o ramo familiar de imóveis e demos asas ao nosso sonho artístico.Meu irmão tem mais talento além de nossas livrarias ele faz teatro,eu me confino aqui e por vezes escrevo.
-Estar confinado em uma livraria tão bem amparada de mestres em suas estantes,como esta,deve ser algo interessante.
-Os livros podem ser frios a noite.
-Eu preciso ir.Levantou-se ela num rompante.
-Espero reve-la teremos uma noite autógrafos com Fabrício Carpinejar o escritor e poeta, na noite de quinta feira és minha convidada ilustre.
-Nem sabes meu nome.
-Teu rosto não esquecerei,estarei aqui a te esperar na quinta feira.
Sairam.Ela pela porta de vidro a fora,ele para sala administrativa.
Quinta feira de inverno um escritor e poeta fala sobre sua vida e arte,um homem e uma mulher que mal se conhecem estão de mãos dadas sem pensar no universo.
-Agradeço por ter vindo.
-Agradeço pelo convite.
Fim de autógrafos e coquetel,prometeu levá-la em casa sobre protestos da mesma,conseguiu no entanto faze-la aceitar a carona.
-No momento em que te vi soube que de ti precisava.
Pasma com o súbito desabafo,suspirou...
-Uma declaração de amor tendo em vista que nos conhecemos a dois dias.Tom de voz repreensivo.
-O tédio me fez pular da zona de conforto e confronto meus medos pra dizer que estou apaixonado.
-Eu aceito.
-Obrigado.
Dormiram abraçados e contentes encaixaram-se perfeitamente sem grunhidos ou gritos de histeria somente a satisfação de gemidos que se completam.Na manhã seguinte mel,torradas e suco de uva.Trocaram telefones pessoais e comerciais assim como e-mails,beijo longo antes do adeus,até breve ou tchau.
Era uma despedida.
Na mesma manhã Heliodora caminhou ao cais,não mais voltou.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Atriz

-Disse adeus.Quando queria correr atrás,abracei o céu e apertei-o rente ao meu peito infeliz.
Aplausos.
A platéia ficou encantada com a última fala da atriz,inclinou-se perante o ovacinamento e delicadamente saiu do palco,sonhara a tempos em fazer aquele espetáculo fôra estudante ferrenha daquele dramaturgo russo.Sua velha avó antiga bailarina lia pra pequena neta as peças deste magnífico,e no seu imaginário de menina pensava apenas em dançar sobre cada palavra do livro,preparou desde então seu ballet.
Ao crescer teve certeza,a dança lhe abençoara pouco,atriz seria.
Sempre envolta nos teatros da cidade empobrecida apaixonou-se pela ribalta,ao retirar a maquiagem no camarim tão bem arrumado uma lágrima saltou dos olhos uma puxou a outra e muitas deram as mãos.Chorou sozinha no camarim arrumado.
Felicidade misturada a tristeza acorrentada ao medo.
Seria o que após aquela apresentação?
Desceu ao estacionamento pegou seu carro e foi a uma padaria próxima de sua casa,degustou um bolo de chocolate acompanhado de matte sem açúcar e pesquisou a alma.
O que estaria sentindo?
A paz até aquele momento não lhe tinha sido apresentada saberia dizer pouco sobre ela ou mesmo reconhecer seria difícil,os olhos haviam secado e a sequidão chegara aos lábios,boca e garganta nenhum chá,suco ou àgua trouxe alívio.
Foi-se.
Trancou-se em casa só.
Pegou o livro antigo da avó,folheou-o inteiro nenhuma emoção.
Nenhuma recordação.
Nada.Emoção mudou pra casa ao lado.
Estranhou.
Na semana anterior quase havia fritado os rins da empregada que deixou o livro cair fazendo com que a capa descolasse,vôou ao pequeno livro
como se pudesse ressuscitá-lo;olhos inchados ao ver seu pequeno russo ao chão.
Entristeceu-se pela empregada que não mais voltou.
Caminhou pela casa foi ao jardim,preparou um chá de melissa,deitou no sofá.
Tudo em silêncio.
Tudo em...paz?
Chá pronto...aprendeu com a avó esse hábito por:"água quente com gosto".
Esperou o chá esfriar consultou o relógio.Pegou a chaleira mais linda com adornos russos foi ao cemitério.
Lavou o túmulo com poucas gotas d'agua quente.

domingo, 1 de março de 2009

Emmy

-Que procuras?
-Se bem vejo estas aí já faz um tempo.Que queres neste baú?
-Que queres?Talvez possa te ajudar.
Ela deixou de insistir e foi pra cozinha havia de terminar o jantar dos hóspedes.A velha se preocupava com aquele rapaz de 25 anos óculos pretos de lentes tão limpas que seus olhos azuis resplandeciam mais.Uma mistura de amor de mãe e desejo de mulher,era uma senhora de seus 65 anos mas estremecia por homens de variadas faixas etárias,sociais ou etnias.Mas por este jovem era um misto de cuidado e sexualidade aflorada,cortava a couve com uma firmeza vinda da excitação de ter estado no quarto do jovem calado de olhos claros brilhantes.
-Onde esta o Carlos,D.Emerinda? a pergunta cortante interrompeu frenesi erótico com aquele vegetal.Rogério o hóspede não querido.
-Me chame de Emmy,já te disse isso.Quantas vezes terei que repetir?
Rogério sabe que sua permanência ali se dá apenas pelo fato de seus pais pagarem em dia e serem amáveis em todas petições de D.Emerinda.
-Sabe como é o gás esse mês,aumentou!Sabe como é a alimentação sempre esta pela hora da morte!Sabe como é por mais que goste de seu filho hospedaria pede um pouco mais de lucro,os gastos são imensos!
Atendida em suas petições a permanência prolongava,mas afeição ao rapaz sempre fora negada.Jovem bonito mas extrovertido ao extremo:homens têm que ter um charme calado. Era o seu ditado sempre repetido entre as muitas amigas do forró.
Rogério leva pouco a sério o fato da falta de empatia entre ele e a dona da pensão contanto que tivesse um telhado lhe abrigando do sol e chuva sem que tivesse de pagar um tostão já lhe era lucro;seu parco salário de auxiliar de escritório ficava entre botequins e casas de massagem,a palavra prostíbulo a tempos desusada uma forma digna de nomear a casa onde vários favores são dedicado aos clientes e pode até ser que tenha massagem.Não?
Rogério pegou uma maçã e saiu.Obteve a resposta de D.Emerinda apenas um resmungo.
-Uhnf!
Era o código ente ambos significava:Esta tudo bem!!! Não se preocupe!!!
Alguns hóspedes desceram pro almço e já saiam pro trabalho.Emerinda deu sorte com hóspedes ao todo 25 na maioria artistas que por mais incrível que pareça tinham dinheiro pra pagar seus pequenos aluguéis cobrado todo dia 05 do mês sem direito à atrasado com pena de gentilmente serem convidados a retirarem-se,ninguém queria ir pra longe dali.Emerinda era uma dessas sérias mulheres convidativas.
Carlos almoçava pouco quase sempre não descia do quarto.
Emerinda levou-lhe sobremesa.Ao entrar no quarto Carlos continuava a investigar o baú velho,Emerinda sentou na cadeira de balanço do quarto colocou a sobremesa sobre a cômoda e ficou a olhar o rapaz.
Carlos tirou a roupa e ficou de frente pra ela.
-Que procuras?disse ele
-Se bem vejo estas aí já faz um tempo.Que queres?repetiu a fala da mulher
Emerinda com olhos úmidos e voz consoladora explanou seus poucos pensamentos naquele instante.
-Quero o favorecimento de teus braços ao meu redor.
-Isso tão somente? desafiou o rapaz
-Podes me oferecer mais? a mulher gostou da brincadeira
-Te ofereço um baú.Confiante ele esperou uma resposta positiva
-Um baú?Estou diante de você pedindo e oferecendo o possível e além deste.E tu me propõe um baú?Irritadiça a mulher se levantou.
-Entendeu mal.O rapaz já flácido tentou explicar.
Enraivecida a mulher saiu.Mais tarde voltou.Encontrou o rapaz remexendo no baú como o dia todo fizera.
-Sou uma mulher envelhecida pelo tempo,negativamente te da o direito de brincar com o que sinto por ti.Iniciou ela.
-Pare teu monólogo,iria te dar o que queria mas pra isso tinhas que aceitar o que tenho.
-Um baú?
-Sim um baú.Qual o mal?Aceitarias um lagarto?Uma Bília?Ou diamante fraudulento?
A beleza de um baú desprezas por necessitar da aprovação de outros;queres sentar em teu bar em um destes teus bailes e contar pra suas muitas amigas o que ganhou de um homem mais novo que lhe trouxe vida.Algo que lhes encham os olhos,que lhe incha o ego.
-Ao aceitar este baú recebe o bem que posso.
Ela ajoellhou-se e lambeu a calça jeans do rapaz na altura da braguilha que denunciava um pênis grande e duro.
-Eu aceito teu baú e o que nele conter.
Levantou-a e com os dedos masturbou-a e beijou lânguidamente
Não houve um amor naquela noite houve sim um encontro de dois corpos quentes maduros.
E na manhã seguinte um rapaz de barba feita sorriso enigmático desceu pro café da manhã e também pro almoço.
Rogério sem coragem de perguntar-lhe esperou ele subir e de súbito foi a Emerinda.
-Emmy que aconteceu com Carlos?
-Já te disse que é pra me chamar de E...Acertou?Sabia que era gracejo este seu esquecimento.
-Que aconteceu ao Carlos?impaciente insistiu.
Emerinda deu de costas e resmungou:
-Uhnf!