terça-feira, 14 de julho de 2009

Edu Mackenzie

Se ele soubesse o que fazer não estaria ali parado de frente pra geladeira de porta fechada.
Não havia tostão algum em seus bolsos a não ser as moedas dos três ônibus que tinha que pegar pra ir ao teatro,ator iniciante carreira/perigo disse sua mãe,até aquele momento ele pode respirar nem sempre sossegado mas com nariz em pé.
Caipira em cidade grande Eduardo Souza Pires nome de batismo de Edu Mackenzie o ator de teatro homem negro da pequena cidade de Piquete,sempre sonhou em frequentar a Faculdade Presbiteriana Mackenzie que ouvira falar bem através de jornais e dos membros da igreja que sua mãe frequentava,ela mulher pobre empregada doméstica que criou o rapaz com pouco arroz e feijão e muita severidade advinda do amor incondicional a este.
Edu conheceu o teatro na escola quando lia os jornais levado pela professora para sala de aula e ali no caderno jornalístico destinado a artes ele viu algo intrigante uma ator de televisão longe daquela luz da tv,aquela maquiagem rica,aquele jeito de que "tudo sabe" que só a tv proporciona,viu um ator de tv totalmente modificado.
Não sabia identificar o que.
E foi a primeira impressão que teve depois confirmada por outras vezes e chegou a um determinado pensamento:"Atores mudam no teatro,recebem vida ali"
Passou a sonhar com teatro e um dia sonhou estar em cima do palco,sim,ele como ator;sua mãe na primeira fileira também recebia aquela luz que só o teatro proporciona,acordou sorrindo.
Aos 15 anos saiu de Piquete e foi morar com um casal de tios em São Paulo viveu com eles durante três anos e quando pegou certa confiança na cidade se achou pronto a ir morar sozinho num pequeno quarto/sala pra moços solteiros.Trabalhava como entregador de gás de cozinha durante o dia e fazia teatro a noite começou fazendo curso numa pequena sala disposta pra oficinas pela secretaria de cultura da cidade.Dali foi convidado a participar de um grupo de teatro e começou seu trajeto artístico.
Sua mãe não o vira no teatro após 2 anos de já ter iniciado,ela cria no talento do filho mas tinha medo da falta de sucesso que este meio de trabalho premia seus ardorosos valentes..
Em um mês de Abril Dalva Souza Pires fechou os olhos e dormiu.
Edu Mackenzie voltou a Piquete pra enterrar a mãe.
Pegou os pequenos pertences,alguma economia e voltou a São Paulo.
Não chorou.
Três dias passados Edu Mackenzie estreou como ator protagonista de um musical europeu que seria montado no Brasil por uma temporada de três anos,após um ensaio cansativo de danças e canto voltou pra sua kitnet tomou um banho rápido e pensou em fazer chá.
Ao caminhar em direção a geladeira,chorou.Olhando a geladeira de porta fechada reavaliou a vida que se fechará num fim.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

BenCastle

Estava sozinha até aquele momento,quando ouviu o carro do vizinho chegar na casa ao lado.Foi até ele e não se ateve simplesmente em olha-lo:tenho sentido algo aqui dentro de mim que pode ser chamado de amor.
O rapaz com seu sorriso sempre belo disse:Não tenho pretensões em me amarrar a quem quer que seja.
Mônica deu um passo para trás e saiu.
"Como pude ser tão tola?"
Indagada por si mesma,não chorou apenas tomou uma aspirina antes de se deitar.
Acordou de madrugada,com dores musculares,dor de cabeça e vômito.
Pensou em levantar da cama mas não conseguiu,vomitou ao lado da cama jogou um travesseiro em cima do líquido amarelo que saiu da sua boca,olhou pro teto e viu animais irreconheciveis mistura de hipopótamo com escorpião,elefantes com asas de morcego e tudo a girar.
Seu corpo ardia debaixo de edredons caros e sem niguém ao seu lado.
Telefone caiu ao chão e ela não conseguia alcança-lo.
Não dormiu,mal acordou,pela manhã agradeceu aos céus pela melhora.
Foi até o carro do vizinho que estava pronto pra sair e disse:Sofri por mim ao amar a ti mas hoje percebo que senão fosse a dor passada não seria capaz de te dizer adeus.As chaves estão aqui volto hoje pra BenCastle minha cidade Natal,procure-me quando tiver certo do que sentes primeiro por ti depois por mim.